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E o dress code da Met Gala de 2024 é...

18 Apr 2024
By Lilah Ramzi

Adut Akech, Bad Bunny, Amal Clooney, e Olivia Rodrigo em Met Galas passadas.

Para compreender o dress code da Met Gala de 2024 - "The Garden of Time" - é necessário, em primeiro lugar, compreender o conceito da exposição deste ano.

Na segunda-feira, 6 de maio, os co-chairs da Met Gala, Bad Bunny, Chris Hemsworth, Jennifer Lopez, Zendaya e Anna Wintour, da Vogue, receberão os convidados no museu para uma exposição intitulada Sleeping Beauties: Reawakening Fashion.

A próxima exposição não tem a ver com os Irmãos Grimm ou com a Disney, mas sim com a celebração de roupas e peças tão frágeis que nunca mais poderão ser usadas - e que, por isso, são belezas adormecidas nos escrupulosos arquivos do Costume Institute. (Nesta analogia, podemos considerar o curador responsável pelo Costume Institute, Andrew Bolton, o Príncipe por ter despertado estas peças para uma exposição).

De acordo com o Metropolitan Museum of Art, podemos esperar uma variedade de Moda em exposição que remonta a um corpete inglês do Período Elisabetano do século XVII, que encarna a beleza do mundo natural - a sua fragilidade e a sua inevitável decadência. Peças mais modernas e menos delicadas, imbuídas no mesmo espírito presente nas peças em destaque, serão expostas a seu lado, divididas em três subtemas: Terra, Mar e Céu.

A segunda parte da compreensão do dress code deste ano, O Jardim do Tempo, é conhecer um pouco da sua inspiração: um conto com o mesmo título escrito por J.G. Ballard em 1962. (O autor é talvez mais conhecido pelo seu romance O Império do Sol, que foi adaptado ao cinema por Steven Spielberg).

Este é um conto sobre o conde Axel e a sua mulher, a Condessa, na sua utopia de lazer, arte e beleza; vivem numa villa com um terraço com vista para um jardim de flores cristalinas com folhas translúcidas, caules brilhantes como vidro e cristais no coração de cada flor. No entanto, como em toda a obra de Ballard ("Ballardiano", segundo os dicionários contemporâneos, passou a representar "modernidade distópica, paisagens artificiais sombrias e os efeitos psicológicos dos desenvolvimentos tecnológicos, sociais ou ambientais"), há um elemento distópico no seu paraíso; agarrar-se a ele é como tentar manter intactos na palma da mão todos os grãos de um punhado de areia.

Para além dos muros da
villa do Conde Axel, uma multidão invasora e caótica aproxima-se a cada hora. Para restaurar a tranquilidade, o Conde tem de colher, no seu jardim, uma flor que inverte o tempo até não restar nenhuma. A história termina com a multidão irrefletida a descer sobre a villa - agora uma propriedade abandonada com um jardim negligenciado - onde está uma estátua do Conde e da sua Condessa enredados por plantas espinhosas.

Mas, e pedindo emprestada a expressão ao TikTok (um patrocinador da Gala): "Ok, mas o que é que vamos usar?" Vamos analisar as várias formas de interpretar o tema. Em poucas palavras, o dress code, bem como a exposição, é sobre a beleza fugaz. A interpretação mais óbvia seria abraçar a parte do "jardim" de The Garden of Time (O Jardim do Tempo). Pense em florais melancólicos (já que os florais moody não são suficientemente moody).

Entre as peças que sabemos que estão na exposição está um casaco formal preto de Charles Frederick Worth de 1889, cortado a partir de um tecido jacquard com tulipas papagaio que, segundo o Met, têm uma "qualidade dinâmica agressiva".

Um casaco preto de Charles Frederick Worth de 1889, apresentado na próxima exposição
Museu Metropolitano de Arte

Um look da coleção primavera 2014 de Dries Van Noten
Vogue Runway

Algo da coleção primavera 2014 de Dries Van Noten, que apresenta bordados de tulipas papagaio aparentemente arrancados da capa de Worth, seria uma escolha inteligente. O mesmo aconteceria com algo da sua coleção da primavera de 2017, em que as modelos desfilaram numa passerelle ladeada por flores requintadas congeladas em blocos de gelo criada pelo artista floral vanguardista Azuma Makoto; a referência floral cristalina seria uma bela piscadela de olho a Ballard.

Mais para aqueles que abraçaram o tema floral: houve uma mão-cheia de exemplares descaradamente carregados de flores nas recentes coleções de Alta-Costura. Considere-se um look da estreia de Simone Rocha Alta-Costura para Jean Paul Gaultier, onde as modelos desfilaram com rosas mergulhadas em prata nas mãos, como se Rocha soubesse que este tema estava para vir. Ou, por outro lado, o look 36 de Giambattista Valli, com as suas lantejoulas florais impressionistas e melodramáticas.

Um look da coleção Couture primavera 2024 de Simone Rocha para Jean Paul Gaultier
Vogue Runway

Um look da coleção de Alta-Costura primavera 2024 de Giambattista Valli.
Vogue Runway

Para além destas coleções de Alta-Costura mais recentes, há peças de Karl Lagerfeld ornamentadas com flores na coleção Chanel Alta-Costura da primavera de 2015 - que se desenrolava num jardim que florescia mecanicamente - muito Ballardiano. Até encorajamos looks com flores da vida real, de preferência a murchar; essencialmente, vai querer parecer um memento mori ambulante quando subir os degraus da passadeira vermelha da Met Gala.

Também se podem procurar pistas não florais no texto de Ballard. Embora a destruição esteja à espreita, a Condessa toca Mozart e Bach no seu cravo. Quão apropriado é o look Valentino com notas musicais da primavera de 2014? E para aqueles que querem seguir fielmente o texto, o Conde Axel é descrito como vestindo veludo preto e uma gravata de seda.

O vestido musical de Valentino da primavera de 2014
Vogue Runway

Vestido Moschino com relógio de pêndulo do outono de 2022
Vogue Runway

O tempo - a sua inversão e a nossa impotência perante ele - é outro tema a explorar. Alguém poderia usar no pulso o relógio Crash da Cartier, inspirado em Salvador Dalí. Ou, para uma abordagem mais camp (e uma piscadela de olho a um tema anterior da Met Gala), considere o vestido Moschino com um relógio do outono de 2022.

Em alternativa, os convidados da gala podem pôr de lado a história de Ballard e mergulhar na própria exposição, que celebra a natureza na Moda. Sabemos que os vestidos florais desfocados Loewe do outono de 2023 estão incluídos na exposição - qualquer um deles seria adorável. Também sabemos que há vários looks Alexander McQueen na exposição, uma vez que ele era um mestre da Alta-Costura e muito original. O seu vestido da primavera de 2001, habilmente construído quase inteiramente a partir de conchas de moluscos que o designer recolheu nas praias de Norfolk, é apresentado, tal como o minivestido com asas de borboleta monarca de Sarah Burton para Alexander McQueen. Isto diz-nos para irmos além das flores - olhar para as encarnações menos utilizadas da flora e da fauna na Moda. Se considerarmos os subtemas Terra, Mar e Céu, podemos idealizar algo inspirado no grão da madeira (talvez um lindo moiré de seda?), no padrão das escamas dos peixes e na iridescência da asa de uma libélula. A natureza dá-nos muito mais do que flores para admirar.

Por fim, há o conceito mais alargado da própria exposição: a Moda do passado merece a nossa atenção. Natalie Portman já usou uma recriação do Junon da Dior (que figura na exposição), por isso, será que mais alguém vai optar por usar o vestido Vénus da Dior de 1949 (também em Sleeping Beauties)?


Os vestidos Vénus e Junon da Dior, apresentados na exposição
Museu Metropolitano de Arte

Selecionar uma peça de arquivo excecional, quer seja uma recriação ou não, seria reconhecer o espírito de uma exposição centrada na passagem do tempo. No entanto, enquanto a maioria das exposições utiliza o tempo numa cronologia, uma forma de analisar os objetos em progressões digeríveis, Sleeping Beauties obriga o espectador a adiantar-se. Um dia, tudo o que está na exposição será demasiado frágil para voltar a ser usado.

É um dress code que requer alguma análise, mas o que seria a Gala do Costume Institute sem um enigma de Moda?

Traduzido do original, disponível aqui

Lilah Ramzi By Lilah Ramzi

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