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Todos conhecemos a história de Diana Vreeland. Mas todos esquecemos demasiado rápido o que esta história tem para nos ensinar todos os dias.
Eis o que sabemos de cor. Diana Vreeland nasceu em Paris, em 1903. Nasceu para a Belle Époque e para ser o patinho feio da sua mãe, que sempre a tratou de forma inferior por não preencher os padrões de beleza. Passou a infância no meio de coisas bonitas, no meio do entusiasmo, no meio do drama. Dizia não ter aprendido nada na escola e ter aprendido tudo no mundo - chegou ao ponto de, quando a família se mudou para Nova Iorque em 1913, dizer que já não queria estudar, queria viver, queria ir para a rua. Durante os anos 20, decidiu que se ia tornar a rapariga mais popular da cidade. Apaixonou-se à primeira vista por Thomas Vreeland. Mudaram-se para Londres ("a melhor coisa de Londres é Paris"), abriu uma loja de lingerie e gracejava que tinha deitado abaixo a Coroa britânica por ter vendido a Wallis Simpson três camisas de noite "para um fim de semana muito especial". Voltou a Nova Iorque. Foi convidada para escrever uma coluna para a Harper's Bazaar, Why don't you?, e pouco tempo depois era editora de Moda. "Mas eu nunca trabalhei antes. Nem sequer me vesti antes do almoço!". 26 anos depois, tornava-se Diretora da Vogue.
Estávamos em 1962 e a Vogue estava adormecida. Diana sabia que tinha de a tornar "a" revista de Moda e instintivamente - tudo em Vreeland era instinto - injetou-a com o youthquake dos anos 60 e das ruas de Londres, trouxe a liberdade, a energia. Trouxe mundo. Era feliz nas revoluções, na estaca zero, na tela onde se podia pintar. Era feliz quando se atirava fora tudo o que era velho e se comunicava o mundo no papel.
Vreeland trouxe modelos de todos os continentes, trouxe novos fotógrafos, trouxe visão. Descobriu Edie Sedgwick (como já tinha descoberto Lauren Bacall), foi a primeira a publicar uma fotografia de Mick Jagger, fez com que Manolo Blahnik começasse a desenhar sapatos, deu o empurrão a Oscar de la Renta e Diane von Fürstenberg. "Consegues ver uma revolução a aproximar-se na roupa. Consegues ver e sentir tudo na roupa."
Diana Vreeland tornou-se no oráculo do que estava para chegar e traduzia-o para os leitores. Deu personalidade às modelos e tornou as personalidades e celebridades em modelos também. Celebrou as falhas: se alguém tivesse uma peculiaridade, seria a peculiaridade mais bonita de todas. Espaços entre os dentes, alturas descabidas, narizes megalómanos (foi Vreeland que quis fotografar Barbra Streisand de perfil e fazer do seu nariz um monumento). Publicou o corpo nu de Marisa Berenson. Apaixonou-se por Twiggy.
Fez a Vogue ser sobre a vida. Fez a Vogue mergulhar na curiosidade, na experimentação, na fome do futuro. Fez a Vogue ser maior que si mesma, fê-la ser mais do que Moda, fê-la ser arte e espetáculo e performance e música e cinema e cultura. Fê-la, também, ter personalidade.
Diana deixava-se fascinar por cirurgias plásticas, por pornografia, por tudo o que parecesse vulgar e mundano. Deixava-se fascinar por pessoas e pelas fantasias a partir das quais construía a sua realidade - afinal, o natural era tão aborrecido.
Mas também tinha uma feminista como Marguerite Duras a escrever para a sua revista. Também contava histórias - como aquela famosa e insana em que enviou Veruschka para ser fotografada com pelos no Japão, em que a inspiração foi The Tale of Genji, de Murasaki Shikibu, o primeiro romance a ser escrito por uma mulher.
Diana Vreeland não falava de dinheiro, falava de arte, e quando chegaram os anos 70 isso deixou de ter espaço no meio editorial.
Eis o que nos esquecemos vezes demais. Ou é tudo, ou é nada: tudo o que existe no meio é aborrecido demais. O extraordinário e o extremo e o extra são os únicos patamares que podemos querer atingir. No fim do dia, a visão é tudo o que temos, tudo o que é exclusivamente nosso. Mas mesmo isto que é exclusivamente nosso pode, deve, tem de ser um meio para tornar as mulheres - e homens - que estão à nossa volta em pessoas maiores, com mais garra, com mais confiança, com mais poder. A ideia é maior que os factos e a fantasia é a pulsação da vida. Isto foi o que Diana Vreeland nos atirou para o colo quando trouxe vida à Moda, esta foi a responsabilidade que sempre exigiu de todos os que se lhe atravessaram no caminho. Direta ou indiretamente, todos caminhamos um pouco na estrada que pavimentou. O mínimo que podemos fazer por ela é não deixar de sonhar.
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