Kinga Rajzak fotografada por Branislav Simoncik com styling de Nina Ford para o The Fairytale Issue da Vogue Portugal, publicado em maio de 2022.
O tom verde que protagonizou as coleções Pre-Fall é mais versátil do que parece.
Foi-me pedido que usasse verde durante uma semana – para dar vida ao meu verdadeiro vilão interior, como o meu editor tão deliciosamente sugeriu. Como alguém ligeiramente cromofóbica, especialmente em relação a uma tonalidade tão sem remorsos como o verde, fiquei surpreendida. Mas também... intrigada. Desafio aceite.
Há algo no verde que parece instantaneamente pesado, é uma cor estranha. A culpa é da cultura pop: desde a personagem Elphaba de Wicked até à aura de fumo tóxico da Malévola, o verde foi codificado como a cor dos vilões, cooptado e reenquadrado em todas as direções imagináveis. É a lima sintética do Brat green – desafiante, barulhenta e com uma atitude desequilibrada. É a inveja, a ganância e o veneno. Mas é também um tom associado a símbolos de orgulho, pureza e fé. É exuberante e cheia de vida, a cor do crescimento e das paisagens da natureza. Depois há a versão cáustica de Miuccia Prada. Ligeiramente nauseante, de uma forma que só os apaixonados pela Moda conseguem realmente apreciar. Verde. É o que temos para o jantar.


Prada Pre-Fall 25
O mundo da Moda concorda. O verde está a ter um momento Pre-Fall, como um resquício da exuberância do verão, mas não menos marcante. Naturalmente, fiquei curiosa. Comecei com cautela, como se estivesse a mergulhar um dedo do pé em água radioativa, mas depois mudei de rumo e peguei num casaco Versace vintage brilhante e esverdeado que tinha comprado por impulso. Ou talvez durante uma crise de personalidade. “Sê ousada”, dizia a minha voz interior. E assim o fiz. Combinado com calças de ganga, foi o toque de cor e confiança de que precisava para encaminhar a semana. Os elogios não tardaram a chegar. De sobrancelhas levantadas a gestos de aprovação e gritos de alegria dos meus colegas. Mas o meu editor? “Demasiado seguro”, disse. Estava na altura de acelerar e experimentar mais – e esperar que não pareça uma salada.


Esquerda: saia de lantejoulas Cocellato. Direita: óculos de sol Loewe.
Seguindo as sugestões dos stylists sauditas Rehab Alahmadi e Jawaher Aldokheel, que sugerem a mistura de várias tonalidades e detalhes metálicos para criar profundidade. “Adoro usar o verde como ponto focal”, observa Alahmadi, “especialmente no Dia Nacional [da Arábia Saudita], quando o verde-esmeralda ganha vida em abayas feitas à medida e vestidos fluidos”. Dado que era apenas mais uma terça-feira para mim, optei por um conjunto simples mas totalmente verde, ligeiramente inspirado na obra-prima de Gwyneth Paltrow em Great Expectations. Uma saia Tibi verde-ácido, de nylon, serviu como ponto de partida, combinada com um fato de banho Hunza G, uns óculos de sol Loewe em tons de jade e um pouco de dourado para completar o look – uma profusão de verdes, sem um bróculo à vista. O truque está nas texturas.

O conjunto todo verde de Gwyneth Paltrow em Great Expectations
Getty Images
Entusiasmada com a minha pequena vitória, comecei a compreender o poder do verde e porque é que os designers, desde nomes como Bally a Balenciaga, têm apostado neste tom por vezes controverso. Até a Gucci e a Valentino, maisons há muito ligadas aos vermelhos simbólicos, abraçaram o verde luxuriante nas suas colecções de Pre-Fall. A coleção de Roberto Cavalli, inundada por um verde profundo, esmagado e aveludado, é menos sinistra e mais sensual. Um toque de divindade opulenta num mundo pragmático. Nestes contextos, o verde não é apenas um pop de cor; é uma estratégia tonal. O casaco de linho de Rabanne não se limita a animar um conjunto intencionalmente monótono; resgata-o. Verde. Tem coragem. Versatilidade. Pode oscilar entre o néon gritante e o caqui esbatido e neutro – uma espécie de limpeza de paleta nas mãos hábeis da Dior, cujas versões de gabardine e brocado parecem inesperadamente casuais, menos preciosas, em tons de sálvia.


Esquerda: Dia 1, um blazer vintage vibrante que foi considerado demasiado seguro. Direita: Dia 2, O espetro verde completo, com uma saia Tibi, um fato de banho Hunza G como top e uma gabardina verde
Mais importante, e ao contrário do código de cores moralmente corrupto da Disney, faz-nos parecer mais simpáticos e acessíveis do que realmente somos. “É uma cor calmante”, assegura-me a designer Sarah Fuad a partir do seu estúdio em Londres. "Dá uma sensação de equilíbrio e força. E como saudita a viver no estrangeiro, faz-me lembrar a nossa bandeira – a nossa casa".
Depois de alguns looks – alguns bem conseguidos, um notável Grinch falhado – o meu entusiasmo começou a diminuir. No final da semana, sem criatividade, consegui apenas um sapato verde-escuro. Depois, alguns dias após a missão, dei por mim a vestir-me de azeitona da cabeça aos pés. Voluntariamente. O verde, afinal, não só nos desgasta, como também nos envolve. É uma cor que não fica quieta. Cheia de contradições, exige ser vista, interpretada, questionada. Tal como Miuccia Prada, que desenha contra os seus próprios instintos até aprender a amar aquilo a que antes resistia, também eu dei por mim sentada naquele espaço outrora desconfortável, surpreendentemente à vontade. Ainda assim, como acontece com a maioria das coisas na Moda e na vida, uma pele beijada pelo sol torna tudo melhor.


Esquerda: Dia 3, um look à la Grinch. Direita: Dia 4, um look suave em tons de verde menta.

Dia 5, quando um sapato verde escuro foi tudo o que consegui arranjar
Traduzido do original, disponível aqui.
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