Porque os últimos oito episódios da série da Netflix têm muito a ensinar, não só a quem os vê, mas a toda à indústria do entretenimento.
Porque os últimos oito episódios da série da Netflix têm muito a ensinar, não só a quem os vê, mas a toda à indústria do entretenimento.
O nome devia ser uma pista, mas provavelmente ninguém esperava que uma mera série da Netflix se acabasse por tornar num verdadeiro meio de educação. Mas é precisamente isso que Sex Education é. E agora que a terceira temporada já estreou e já tivemos tempo de a digerir de uma ponta à outra - se não o fez, aconselhamos a parar por aqui, pois os spoilers serão inevitáveis. É hora de analisar as verdadeiras lições a retirar dos últimos oito episódios.
“All vulvas are beautiful.”
Poderíamos recorrer a quaisquer outras palavras, mas a verdade é que esta frase deverá ressoar na mente de qualquer pessoa que viu a terceira temporada de Sex Education. Raramente se fala de anatomia feminina, muito menos numa série baseada na vida de adolescentes, mas esta é talvez uma das lições mais importantes que a série da Netflix nos deu.
Quando Jean Millburn (a sexóloga interpretada por Gillian Anderson) fala com Aimee, uma adolescente vítima de assédio sexual, esta recomenda uma visita ao website "allvulvasarebeautiful.com" para tranquilizar a jovem relativamente ao formato da sua vulva. O site, que na série mostra as diferentes aparências dos órgãos genitais femininos, pode não ser real (embora o domínio esteja à venda), mas os cupcakes cozinhados por Aimee ao longo dos últimos episódios são, e ajudam-nos a relembrar que “todas as vulvas são bonitas”.
A representação dos binders
As primeiras temporadas de Sex Education já nos tinham habituado à representação das mais diversas identidades de género. Ainda assim, a terceira temporada deu um passo extra ao incluir personagens não-binárias no elenco, que permitiram trazer um olhar mais pessoal às dificuldades sentidas por esta comunidade.
Um dos episódios retrata a entreajuda vivida entre as duas pessoas não-binárias, Cal e Layla, que se unem numa das primeiras representações televisivas dos binders. Na série da Netflix, é possível ver Layla a tentar esconder o seu peito com faixas, mas Cal oferece-lhe um top de compressão (binder) que produz o mesmo efeito de uma forma muito mais segura.
A sexualidade em pessoas com deficiência
Quando se aborda a inclusão nas mais diversas indústrias, é muito comum deixar de lado a representação de pessoas com deficiência. Todavia, em Sex Education, é Isaac quem retrata essa comunidade, ao interpretar uma personagem em cadeira de rodas. E fá-lo na perfeição, até porque o ator, George Robinson, não está somente a interpretar uma deficiência, o próprio é tetraplégico desde os seus 17 anos.
Mas, mais uma vez, Sex Education não se ficou pela mera representação. Ao longo da terceira temporada, é possível ver a evolução da relação de Isaac com Maeve Willey, criando espaço para abordar a sexualidade em pessoas com deficiência. Numa das cenas mais impactantes de toda a série, Maeve descobre (ao mesmo tempo que uma grande parte da audiência) como se processa a estimulação sexual de Isaac, à medida que o próprio vai explicando o funcionamento do seu corpo.
A evolução emocional das vítimas de assédio sexual
Esta é uma história que já vem desde a segunda temporada, mas que se arrastou - e com toda a necessidade - para a terceira parte da série, onde percebemos a evolução emocional de uma vítima de assédio sexual.
Aimee foi assediada no autocarro, enquanto ia para a escola, e desde então revela dificuldade em manter qualquer relação íntima, nomeadamente com o seu namorado. Ao iniciar sessões de terapia, percebemos como a personagem se estava a culpar do sucedido, já que esta “tinha sorrido” para o agressor, associando esse sorriso ao motivo pelo qual o assédio sexual se tinha desencadeado. Mas a culpa nunca é da vítima, e este é um ponto que Sex Education pretende deixar bem assente, ao mesmo tempo que nos ajuda a compreender as lutas emocionais vividas por quem sofre este tipo de agressões.
As dificuldades em torno de uma gravidez
Para uma série de romance adolescente, são muitos poucos os assuntos que são romantizados em Sex Education. E a gravidez é uma das temáticas que, embora fosse fácil de cair em clichés, consegue ser abordada da forma nua e crua que já estava na altura de vermos expressada.
Nesta terceira temporada, são duas as histórias que avançam esta temática: Jean Millburn, uma mulher de 48 anos que engravida inesperadamente, e Hope Haddon que, apesar de diversas rondas de fertilização in vitro, não consegue manter nenhuma gestação. Estas são, na verdade, duas experiências completamente distintas, mas que ajudam a retratar algumas das dificuldades que giram em torno de uma gravidez. A sexóloga de 48 anos é constantemente discriminada pela sua idade, e a nova diretora da escola conta, numa cena emotiva, como sente que não consegue cumprir o único propósito para o qual o seu corpo existe. Duas mulheres, duas experiências, e dois finais que batalham pela classificação de “felizes”.
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