Beleza   Tendências  

Pink hair, don't care

25 May 2021
By Ana Saldanha

O que é que Kate Moss a desfilar para Versace, em 1999, Natalie Portman no filme Closer, e Gwen Stefani nos anos 90, têm em comum?

O que é que Kate Moss a desfilar para Versace, em 1999, Natalie Portman no filme Closer, e Gwen Stefani nos anos 90, têm em comum?

Corria o ano de 1863 quando um químico inglês, William Henry Perkin – que já tinha no apelido quase todas as letras para soletrar “cor-de-rosa” em inglês – fez uma pequena descoberta. A missão do cientista era nobre: queria encontrar a cura para a malária. O resultado da experiência nada teve para oferecer à medicina. Em vez disso, Perkin criou Mauveine, o primeiro corante sintético. A cor era malva, ou mauve, que nas palavras do pintor norte-americano James Whistler é “just pink trying to be purple.” Pouco tempo depois o seu professor de química, August Hoffman, criou um derivado de Mauveine (a para-fenilenodiamina), que é ainda hoje uma das bases para a maioria das tintas de cabelo. Umas décadas mais tarde, em 1907, o empresário francês Eugene Schuelle começou a comercializar a primeira tinta de cabelo de sempre. Um castanho claro chamado Óreal que viria a batizar também a marca L’Óreal, fundada dois anos depois. Foi este o embrião para a coloração de cabelos, ainda que as cores denominadas “de fantasia" só tenham surgido mais tarde – embora bem mais cedo do que o que se possa pensar. Em 1914, a escritora Margaret Manson já ditava a tendência cor-de-rosa que estaria por vir. Num artigo para o United Press, podia ler-se “If you are simply dyeing to be fashionable then choose a bright shade of cerise, for pink hair is the pink of fashionable perfection” (numa tradução livre, “se está a pintar o cabelo apenas para estar na moda, então escolha um tom brilhante de cereja, pois o cabelo rosa é o cúmulo da perfeição”).

Mais tarde, em 1948, começavam a chegar de Paris as cores tendência para a estação seguinte. Só que, desta vez, as cores ditadas não deveriam fazer apenas parte do guarda-roupa, mas tingir também os cabelos. Dos três tons-sensação, um era hermine rose, descrito como “altamente decorativo, surpreendente e novo” porque “nenhum cabelo nascia assim”. Na década de 60, o cor-de-rosa deixou de ser só para as meninas. “A boy without pink hair is a boy without a girlfriend”, lia-se na Associated Press, entre queixas de um rapaz que dizia que a tendência favorecia injustamente os loiros e que a solução para quem tinha cabelo castanho era con- tentar-se com o escarlate. Pintar o cabelo tornou-se de tal forma mainstream que, em 1969, os americanos deixam de estar obrigados a colocar a cor de cabelo nos documentos de identificação, abrindo ainda mais portas à experimentação.

Por cá, Joana Oliveira, hairstylist desde 1999 e um dos talentos à frente do salão HairFusion, conta-nos como aderiu ao cabelo cor-de-rosa em 2015: “Quando estava grávida fui para a maternidade com o cabelo rosa.” E não tarda a enumerar referências quanto lhe falamos da popularidade deste tom: “As imagens mais icónicas que me vêm logo à cabeça são a Gwen Stefani quando estava nos No Doubt nos anos 90 e pintou o cabelo de rosa choque, a Kate Moss quando apareceu no desfile da Chanel nos anos 90 de cabelo rosa pastel [era uma peruca, a modelo efetivamente pintou o cabelo de rosa, mas para o desfile primavera/verão 1999 da Versace] e o Jared Leto quando pintou de rosa forte em 2015”. Mas as referências da cultura pop são praticamente intermináveis – desde Nicki Minaj, que fez do rosa imagem de marca no início da sua carreira, passando pela peruca cor-de-rosa de Scarlett Johansson em Lost in Translation (2003) e pela de Brigitte Bardot em Two Weeks in September (1967) até chegar a Pink, que não podia ter adotado mais esta cor como sua. A especialista em coloração – que assinou uma das mais recentes mudanças de visual da cantora Carolina Deslandes, que escolheu o cor-de-rosa pastel para subir ao palco do Festival da Canção – conta que lhe chegam pedidos para pintar o cabelo de rosa todas as semanas. “Quando pintei o cabelo da Carolina Deslandes de rosa tivemos várias clientes a pedir a mesma cor”. Mas também lhe levam mais exemplos, como Kylie Jenner e “a Sea3po, a Youtuber portuguesa que é a rainha das cores e agora está com uma imagem Christina Aguilera com um undercolor [técnica em que parte de baixo do cabelo é pintada de uma cor diferente]”.

Chegar ao cor-de-rosa, tal como atingir a maioria das cores fantasia, especialmente quando falamos de tons pastel, é um trabalho longo que requer preparação e manutenção. “É importante ter consciência de que fazer cor no cabelo é um estilo de vida, vai ter de mudar os seus hábitos. Primeiro, é muito importante tratar bem do cabelo e, antes de descolorar, fazer muitas máscaras. Para conseguir um tom louro branco sem agredir muito o cabelo, os fios têm de estar saudáveis e o processo de descoloração pode demorar de três a oito horas até chegar ao tom pretendido, entre as descolorações e os tratamentos. Depois disso é escolher o tom que quiser e ir retocando no salão ou em casa”, explica Joana. “Ter um cabelo de cor fantasia exige alguma manutenção: descolorar de dois em dois meses, mais ou menos, e fazer máscaras todas as semanas. O rosa pode obter-se no salão, fazendo um tóner, ou em casa – já existem máscaras de cor que funcionam lindamente.” Se nada disto a demover e não lhe sair da cabeça a ideia de ter o cabelo cor-de-rosa, a especialista deixa-lhe umas dicas para saber em que tom apostar. “Para o verão apostaria num rose gold, mas é importante lembrar que deverá evitar muita exposição solar para que a cor ‘desbote’ menos. Existem várias técnicas onde se pode inserir o rosa, como o look sunkissed [técnica que replica o cabelo clareado naturalmente pelo sol] e o look money piece [nome dado às duas madeixas descoloradas ou de um tom fantasia que emolduram o rosto]. Muitas das nossas clientes optam por fazer esta última técnica – porque quando o rosa começar a desvanecer fica super cool na mesma. No inverno as cores podem ser mais sólidas, ao contrário do verão, em que sugerimos cores mais pastel e mais naturais.”

 

Artigo originalmente publicado na edição de maio de 2021 da Vogue Portugal.

Ana Saldanha By Ana Saldanha

Relacionados


Moda  

Open Call | Shades of Doubt

26 Jul 2024

Pessoas  

As celebridades mais bem vestidas do prelúdio dos Jogos Olímpicos de 2024

26 Jul 2024

Curiosidades  

Nos Jogos Olímpicos de Paris, as mulheres portuguesas fazem história

25 Jul 2024

Moda   Compras   Tendências  

Trend Alert | Recortes

25 Jul 2024