O que fazer, o que não fazer de todo e as dicas indispensáveis de cabelos e maquilhagem para o dia do "sim".
Rafael Marquezine é cabeleireiro e Yara Lacerda maquilhadora. Trabalham muitas vezes em dupla e dedicam-se a criar o look perfeito para o grande dia, orgulhando-se de conceber visuais para noivas das mais diversas culturas - de angolanas, a indianas ou muçulmanas - sempre cientes dos seus gostos e especificidades culturais, harmonizando o look com os costumes típicos. A Vogue Portugal falou com a dupla para saber mais sobre o seu trabalho e os pontos cruciais a considerar num visual bridal.
Como funciona a vossa logística no dia dos casamentos? Yara Lacerda: Normalmente nós vamos mais ou menos três horas antes para fazer a preparação. Ou seja, se a noiva vai casar às duas da tarde, nós pretendemos que ela fique pronta duas horas e meia antes, para depois começar o processo das fotografias, para poder comer, estar com a família e ser tudo mais soft. Sendo um casamento, por exemplo, cultural indiano, normalmente as noivas contratam-nos para o dia todo, pelo que fazemos a preparação da noite, da família também, e aí já requer muito mais tempo. No fundo, é o dia quase todo. Rafael Marquezine: Antes dessa preparação que temos para o dia, há todo um trabalho de testes, um trabalho de pesquisa, de conversa com a noiva e de interação para a conhecermos. Não só trabalhar o dia em específico, mas trabalhar toda uma atmosfera. É um dia muito familiar, que tem muito sentimento, tem muita coisa envolvida. Tem de estar tudo perfeito, do cabelo à maquilhagem e existe toda a harmonia que criamos à volta do look e do momento, que é muito importante também.
Como é que conseguem explorar as particularidades de cada noiva? Yara: Normalmente, quando ela já vem com uma ideia muito óbvia do que quer, nós tentamos olhar - já entra aqui aquela questão do visagismo - e ver o que será melhor para ela; porque às vezes pode gostar de uma imagem, mas pode não ser a imagem que gosta de ver em si particularmente. Por exemplo, se gostam de maquilhagem com brilho, mas o brilho não é uma coisa que faça parte do seu dia a dia ou da sua personalidade, tentamos adaptar e fazer perguntas para chegarmos ao encontro do que é que a pessoa gosta realmente. Temos que ser minuciosas mesmo, e o Rafael nesse sentido também é super exigente. Rafael: O bom de trabalhar em conjunto é que nós no mesmo dia conseguimos harmonizar cabelo e maquilhagem, sem criar essa diferença tão atroz, porque às vezes quando há pessoas que trabalham diferente, podem acontecer alguns desajustes. Então, trabalhando junto e trabalhando em simultâneo, nós conseguimos harmonizar o cabelo, a maquilhagem. Temos outras formações também que definem muito a personalidade, uma leitura mais gestual, uma leitura visual, tentamos ir buscar algumas referências e trazê-las para a realidade dessa noiva. É importante que a noiva se sinta maravilhosa, mas que daqui a alguns anos ela se olhe e consiga se identificar. Não queremos criar um boneco de noiva, queremos que ela se identifique daqui a 10 anos e que seja intemporal, sempre uma noiva muito elegante. E, se a gente observar, as maquilhagens da Yara são maquilhagens que trazem a beleza, que não transformam, mas sim que realçam. Nos cabelos, eu opto sempre pelos mais clássicos, tentando ir buscar a moda, a envolvência, mas também aquele ar mais clássico, que o clássico vai ser intemporal e a vai transportar por várias décadas. Se se visse daqui a 20 anos poderia sentir que casaria novamente assim. Tenho em conta sempre o formato do rosto, pelo tom da pele, como a Yara trabalha maravilhosamente, a textura do cabelo, o estilo do vestido, as peças que vão ser usadas, as joias e todos os outros acessórios. Yara: E depois também, para além de todos esses fatores, há algo que é muito importante: a tendência. Então, tentarmos englobar tudo isso com o fator tendência e perceber que a moda tem aquela fase de ‘agora é, amanhã não é’. E depois? Por exemplo, a tendência das sardas, que é uma coisa super jovial e que a maioria das mulheres gosta. Às vezes, a pessoa tem uma cara de uma forma tão forte que uma sarda não vai ficar bem - depende do formato da cara, do rosto, dos olhos, de muita coisa. Nesse casos sugerimos fazê-las um pouquinho mais leves, não tão marcadas, menos ao centro. Rafael: Temos de tentar minimizar os excessos da nossa parte para que não se caia nos extremos. Naturalmente, o excesso de uma noiva que vá casar pela igreja católica é diferente de uma que é muçulmana, ou hindu, que vai ter um estilo muito mais intenso. Procuramos, contudo, no caso das noivas orientais colocar toda a nossa criatividade e esse processo é completamente diferente.
As diferenças entre noivas
Yara: Falemos, por exemplo, das noivas africanas, porque a África é um continente extremamente grande com muitos povos, etnias e culturas. Ultimamente, temos tido muitas noivas africanas, das colónias francófonas, países que falam francês, por exemplo - as camaronesas, congolesas, nigerianas e ganesas também - e nesse caso os gostos diferem muito. A nigeriana é uma noiva extremamente intensa, quer muita maquilhagem, quer o penteado mais perfeito, quer tudo e mais alguma coisa de exagero. Agora, quando falamos de uma cabo-verdiana, esta já quer uma imagem um pouco mais limpa [...]. Depois temos as indianas também - e dentro da Índia temos imensas religiões - por isso se estivermos a falar de uma hindu, provavelmente quererá algo muito mais carregado e intenso, cheio de flores e cor. Já uma noiva muçulmana será muito mais discreta. São mais simples, mas glamourosas de uma forma sofisticada.
E a nível de cabelos, o que é que vai mudando entre as suas diferentes noivas? Rafael: As noivas hindu preferem mais apanhados e flores, bem como os brincos que vêm presos nos cabelos - e há técnicas específicas para isso, tendo um apoio no cabelo para aguentar o peso das peças. Depois temos os ghoonghat também, que devem estar bem presos pois são muito pesados e bordados, com muita riqueza de detalhe. A noiva africana, como a Yara disse, a cabo-verdiana, de certa forma e a angolana também, quer tudo mais clean, aquele cabelo perfeito, mais sofisticado, clássico - e tem que englobar tudo isso num look só para que ela se sinta maravilhosa e se sinta a rainha da festa. Mas, ao mesmo tempo, com todo aquele exagero de classe, um exagero contido que mostra muito bem um cabelo trabalhado, mas discreto, elegante.
Yara: Já a nigeriana, tem de ter o maior cabelo, a maior Hollywood wave possível. Se for um apanhado, vai estar polido de uma maneira que vai ver-se de longe e com um coque bem grande, bem intenso. É intensidade máxima. Perguntamos logo a nacionalidade para conseguir jogar com o gosto da cliente [...].
Não vos acontece, por vezes, que as noivas cheguem sem saber o que querem? Yara: Eu acho que já aconteceu muito isso, e o impacto da rede social é esse mesmo. A pessoa procura tanto e acaba por se identificar com alguma coisa. Depois é só fazer a investigação e adaptação à cliente. Rafael: O que acontece também é o excesso de informação. É a noiva ter um cabelo, uma maquilhagem, ter 100 referências diferentes e gostar de todas. Então, se há algum tempo atrás não sabia o que queria, hoje sabe demais o que quer e acaba se perdendo nessa caminhada. Mas é para isso que estamos lá: para juntar toda essa informação, criar uma adaptação para aquele dia, pessoa e vestido, para todo o momento e deixá-la perfeita e confortável. Queremos que se sinta bonita e esse é o foco maior do nosso trabalho.
O cabelo

Rafael Marquezine
Quais são os penteados mais populares neste momento tendo em conta, obviamente, as particularidades culturais? Não tem um penteado específico, mas eu trabalho muito um penteado estilo Grace Kelly, que é um clássico, e as Hollywood waves também. Hoje, com a influência africana do natural hair, também estão procurando muita coisa dentro do cabelo natural. Eu acho importantíssimo você trazer a sua culturalidade para dentro de um dia tão especial. Requer muita técnica, requer muita consciência daquilo que vai fazer, porque a cliente tem de ter a certeza que naquele dia quer usar o seu cabelo natural. Por isso é que também fazemos o teste. Não fica um look tão polido e perfeito, mas temos sempre essa conversa [...] e assim sabemos também trabalhar com o produto certo, com a texturização certa, a técnica certa. Para mim está sendo uma escola. Eu trabalho aqui em Portugal há 16 anos e sempre trabalhei com o público africano. Nós começámos num período de muitos lisos e agora estamos nos cabelos naturais, então tudo é um crescente de aprendizagem e é incrível. Temos que ter um pouco de sensibilidade também, é o mais importante: eu acho que o nosso trabalho, além de sabermos o que fazer, é ter um pouco de sensibilidade dentro daquilo que a cliente procura.
E quanto a tratamentos, o que recomenda? Há toda uma preparação prévia de muito tratamento. Se o cabelo precisa de estar com a textura natural, então tem de estar super saudável. Só esse saudável vai conferir brilho, por mais produtos que eu use, e vai trazer mais volume e textura. Um cabelo africano, ao contrário do que muita gente pensa, é um cabelo muito sensível. Quando nós trabalhamos algum produto químico - umas madeixas, uma cor, qualquer coisa do género ou até mesmo um alongamento dos caracóis, para diminuir a intensidade da textura. Tudo isso é muito agressivo e para um cabelo que tem uma estrutura muito fina, mais ainda. Nós temos três básicos de tratamento, que é reconstrução, nutrição e hidratação. Isso é o básico para qualquer cabelo. A partir de uma análise e sentindo a necessidade do fio vamos trabalhar os três pontos principais para manter o cabelo saudável. E isso é não só para o cabelo africano, mas para todos os cabelos que têm algum trabalho de cor, de madeixa, de qualquer trabalho técnico, é preciso sempre esse cuidado.
E quanto tempo antes é que se deve ter este cuidado? Desde que nasce até que morre tem de ter sempre esses cuidados. É muito importante porque todos os dias o nosso cabelo sofre com algum desgaste - do secador, do Sol, vento ou frio. Tudo isso agride a nossa fibra capilar. Nós não sentimos dor, mas é completamente orgânico e vai sofrendo com esses desgastes. Então, para mantermos um cabelo saudável, tem de existir um cuidado contínuo. De sempre, para sempre, [...] mas, pelo menos dois meses antes do casamento, é sempre importante intensificar esses cuidados.
Como é que se tem um cabelo que fica o dia todo impecável, mesmo com vento ou humidade? Muita técnica na parte da preparação. Tem de ter os produtos adequados, que são produtos texturizantes, que criam volume e que têm aquela memorização do penteado e que bloqueiam a humidade [...] e, claro, algum cuidado próprio da noiva. A gente dá algumas dicas para quando se tem um véu para que, quando as pessoas a vão abraçar, coloquem a mão na frente e não abracem o cabelo, véu e tudo mais. Há sempre aquele tio, aquele avô que vai abraçar como se não houvesse amanhã [risos] mas vai ter o dia seguinte, mais o resto da vida para abraçar e desejar toda a felicidade.
Há alguma coisa que se deva levar para retocar?
Depende. Para quem usa o véu, hijab ou capulana é diferente [...] Nós temos um kit que com bloqueador de humidade, ganchos, tudo e mais alguma coisa, até alfinetes para o vestido, caso aconteça alguma coisa. Em Portugal nós temos noivos que se casam à beira-mar e por isso temos mesmo de trabalhar mais o bloqueador de humidade e a laca [...] com efeito seco, para que não deixe o cabelo muito pastoso. Sempre aconselhamos, ou às vezes preparamos mesmo um kit, depende daquilo que é falado na prova.
Tem alguma recomendação final que queira partilhar connosco?
Equilibrar as emoções nesse dia, para que não arranque o véu, não amasse o cabelo e não sinta desconforto! O foco está sempre na noiva e tentamos minimizar algumas questões para que ela esteja relaxada. É um momento de muita ansiedade e algumas pessoas têm a tendência de colocar todos em casa. [...] É muito stressante para a noiva ter as damas de honor, as mães, as avós e todo aquele conjunto de gente em casa. Não vale a pena! Nesse momento, eu acho que só as pessoas mais próximas devem estar presentes para existir um equilíbrio e fazer tudo com calma [...] Mas o primeiro momento para a preparação de uma noiva é mesmo tentar dormir bem, para ficar com a pele descansada, e ter um início de dia bastante calmo com um banho relaxante e algo que lhe traga tranquilidade.
A maquilhagem

Yara Lacerda
Como se pode ter uma pele incrível no dia do casamento? Uma boa rotina de tratamento diário vai fazer com que melhore a textura da pele. Não há nenhum produto de maquilhagem que vá fazer com que a pele se torne a mais perfeita do mundo mas conseguimos sempre adaptar, hidratando, fazendo uma máscara de preparação, por exemplo. Mas o melhor conselho que possa dar é fazer uma boa skincare. É possível melhorar a pele um mês antes do casamento e a ingestão de água também é algo muito importante.
Como se cria uma maquilhagem duradoura? É um desafio muito grande. Há produtos que são muito nossos aliados e quase “blindam”. É sempre importante que, se chorarem, vão limpando as lágrimas também e que, como referimos, se tenha muito cuidado com abraços e beijinhos. O resto tem que ver com a técnica da nossa parte.
Nas fotografias com flash, por vezes pode notar-se um filme branco na pele. Como evitamos isso? Evitamos fugindo a pós com flashback e usando sempre uma bruma hidratante no fim, que faz com que se misture o pó com a base, tendo um efeito mais natural. Se vão comprar um pó, a minha sugestão é mesmo tirar uma fotografia com flash na loja e ver logo o efeito. No casamento nunca se pode usar, pois é um dia de muitas, muitas fotografias [risos]!
Há algum produto que as noivas devam levar para retocar? Batom e lápis para retocar. E um bocadinho de pó e blush - são tantos beijinhos e abraços que o blush pode sair muito rapidamente, embora às vezes a noiva nem dê conta. Mas com a minha preparação de pele, ela dura mesmo o dia todo, faço sempre por isso! Só em casamentos com muita animação e muita dança é que pode acontecer que a maquilhagem não dure tanto, claro.
Quanto ao look de olhos, o que recomendaria a uma noiva? Eu sou a favor de tons mais neutros e mattes. Gosto muito de ver as noivas com um smokey eye bem clássico e ténue, acho mesmo muito bonito. Mas claro que há pessoas que gostam de usar looks carregados e eu também gosto muito disso, gosto de brincar! Claro que existem rostos e personalidades que não conseguem levar determinada maquilhagem e, por isso, a pessoa não se vai sentir segura. A expressão não vai ser a mesma, e temos sempre cuidado de adaptar o visual a cada noiva, como falámos há pouco.
Há alguma pergunta muito comum que as noivas lhe façam? As clientes às vezes querem fazer um procedimento estético mas no momento da prova já fica logo explicado que terá de ser sempre 15 dias antes, isto se for um procedimento simples. Se for um peeling terá de ser seis meses antes, claro, porque a pele demora muito a regenerar-se. As extensões de pestanas, por exemplo, também são um terror! Dependendo do estilo, claro, mas há alguns que são difíceis de trabalhar: quando vamos fazer a maquilhagem vai cair o brilho e a sombra, e é muito mais difícil ficar tudo limpo, embora eu faça sempre para que fique o mais polido possível. A minha sugestão é usar a pestana de uso diário, é mais natural e prático. Normalmente achamos mais difícil aplicarmos sozinhas, mas não é: o truque é deixar a cola no ponto certo, e depois aplicar e ajustar!
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