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Jean-Paul Gaultier: 14 momentos que marcaram a sua carreira na passerelle

22 Jan 2020
By Rosalind Jana

Depois da notícia de que o maior showman da Moda vai apresentar o seu último desfile, a Vogue relembra as criações que deram a Gaultier a reputação de enfant terrible da alta costura, como o emblemático soutien cone de Madonna, as danças celtas e os vários concursos de dança.

Depois da notícia de que o maior showman da Moda vai apresentar o seu último desfile, a Vogue relembra as criações que deram a Gaultier a reputação de enfant terrible da alta costura, como o emblemático soutien cone de Madonna, as danças celtas e os vários concursos de dança.

© Getty Images
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O enfant terrible da Moda francesa vai reformar-se da passarelle. Depois de uma carreira de 50 anos, que começou aos 18 como aprendiz de Pierre Cardin e mais tarde se tornaou num império de design avaliado em vários milhões euros, Jean-Paul Gaultier anunciou que o seu próximo desfile de Alta-Costura, em Paris, hoje, 22 de janeiro, será o último. Ao postar um vídeo engraçado no Twitter e no Instagram para divulgar a notícia, Jean-Paul prometeu que "Gaultier Paris continuará" - e que ele tem um "novo projeto" para a marca que será revelado "muito em breve". É um próximo passo intrigante para um homem cuja carreira nunca foi previsível. 

Tendo apresentado a sua primeira coleção em nome próprio em 1976, a abordagem irreverente e, muitas vezes, não convencional de Gaultier fez com que o criador desafiasse e moldasse, irrevogavelmente, a indústria da Moda. Trabalhando tanto para a sua própria marca como para Hermès, entre 2003 e 2010, Gaultier criou vários figurinos para teatro e cinema, desde The Fifth Element (1997), de Luc Besson, até, mais recentemente, colocar de pé o seu próprio espetáculo Fashion Freak Show. Um nome adequado, se tivermos em conta que ao longo dos anos se há coisa que Gaultier é bom a fazer é a dar um bom espetáculo.

Com esse espírito em emente, a Vogue recorda alguns dos momentos mais memoráveis da passerelle de Jean-Paul Gaultier: criações ousadas, modelos a desfilarem auréolas, danças celtas, o seu know-how, concursos de dança e muito corsets pelo caminho.

1. Outono/inverno 1984

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Gaultier sempre se sentiu atraído pela possibilidade de usar roupa interior como roupa digna de ser vista na rua, inspirando-se ao longo da sua carreira nas formas dos espartilhos e na lingerie da década de 1950 - e muitas vezes questionando a nossa definição de feminilidade através da paródia e do exagero. Foi na coleção da estação fria de 1984 que se deu o desenvolvimento da, agora reconhecida, silhueta cónica através do vestido Bombshell Breasts numa série de veludos rosa e laranja. Mais tarde, Gaultier afirmou que se inspirou muito nos espartilhos da avó e que o primeiro modelo de uma dessas criações de proporções exageradas foi na verdade o seu urso de infância, Nana. Mais tarde, tornou-se um look célebre quando os seus desenhos chamaram a atenção de Madonna, que pediu ao criador para produzir coordenados com uma silhueta semelhante para usar na sua icónica digressão Blond Ambition de 1990. 

2. Primavera/verão 1985

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Gaultier conseguiu tanto indignação como aplausos com o seu desfile Et Dieu Créa l'Homme (E Deus Criou O Homem, em português) - apesar de não ter sido intencional. Depois de L'Homme Objet (Boy Toy), em 1983 - em que ele explorou pela primeira vez a imagem homoerótica e altamente vincada de um jovem marinheiro muito atlético (deve-se lembrar do top de riscas horizontais azul e branco tantas vezes usado em coleções e os frascos de perfume) - Gaultier insistiu ainda mais na sua abordagem de masculinidade nesta coleção. Na primavera/verão 1985 apresentou o fato de saia para homem, com alguns dos modelos a usar calças à boca de sino coordenadas com camisas largas de xadrez. Embora agora seja considerado um momento de destaque na sua carreira, na época causou alguma consternação: o The New York Times reuniu comentários de especialistas da indústria da Moda que variavam de “O momento mais importante na Moda dos últimos 20 anos" a "São revoltantes.” Gaultier chamou à atenção para a longa tradição de diferentes abordagens culturais dadas às roupas masculinas e continuou a subverter estereótipos e expectativas de género no campo do design e da alfaiataria desde então. 

3. A gala solidária AMFAR de 1992

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Em 1992, Gaultier organizou um evento de solidariedade de Moda para a AmfAR (Fundação Americana para a Investigação da luta contra o HIV) no Shrine Auditorium de Los Angeles. Cerca de 630 pessoas compareceram e foram angariados 700.000 dólares para a fundação ao longo da noite, que foi presidida por Madonna e por Herb Ritts. Apesar do elenco estar repleto de modelos e artistas famosos, incluindo Faye Dunaway, Raquel Welch, Patti LaBelle, o terapeuta sexual Dr. Ruth e Billy Idol, foi Madonna quem proporcionou o momento mais inesquecível da noite, quando tirou a jaqueta quadrada para revelar um saia de cintura subida e seios nus emoldurados por um soutien que se assemelhava a um arneio de equitação. Foi uma noite triunfante e mordaz, especialmente porque o namorado e parceiro de negócios de Gaultier, Francis Menuge, havia falecido de uma doença relacionada com o HIV, apenas dois anos antes.

4. Alta-Costura primavera/verão 1997 

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Com mais de 20 anos na indústria da Moda, o final dos anos 90 marcou um novo passo para o designer, a propósito do seu primeiro desfile de Alta-Costura. Salon Atmosphere foi previsivelmente extravagante, contemplando e destacando simultaneamente alguns dos detalhes mais característicos das suas criações: looks andróginos, corpetes apertados, a corrente artística camp, uma mistura anárquica de referências de high e low fashion com a utilização da ganga e por fim um texto ousado e auto-referencial. Houve também muita fantasia, principalmente quando recordamos o macacão de crepe enfeitado com penas de arara em cores vibrantes. 

5. Primavera/verão 1998 

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A imagem de Frida Kahlo tornou-se agora tão omnipresente que muitas vezes acaba por ficar desprovida de todo o seu original poder revolucionário - a forma de vestir da artista indica não apenas a sua visão política e identidade nacional, mas também a relação complexa que tinha com o seu corpo. No final dos anos 90, Gaultier estava à frente do seu tempo ao transformar Kahlo na sua musa, inspirando-se em algumas das caraterísticas que agora vemos em todo o lado (como a mono sobrancelha, as flores no cabelo ou as saias coloridas até aos pés), mas ao mesmo tempo reconhecendo a complexidade das suas decisões ao nível da roupa. Um dos seus primeiros looks composto por um vestido preto com tiras apertadas com uma fivela no peito aludia, fortemente, à pintura de Kahlo de 1944, The Broken Column, que explorava a sua incapacidade e dor crónica depois de ter sofrido um acidente de autocarro aos 18 anos de idade.

6. Alta-Costura primavera/verão 2003

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Entre as várias maneiras condescendentes que há para descrever uma modelo, "cabide com pernas" está bem no topo da lista. No entanto Gaultier, sempre sincero, aproveitou a oportunidade para reverter essa ideia no seu desfile Flying Jackets Couture. Entre os vestidos mais convencionais e elegantes, puderam observar-se algumas opções incomuns: várias modelos, incluindo Naomi Campbell e Stella Tennant, desfilaram com tuxedos, camisas e blusas em miniatura apoiados à sua frente como se fossem aventais. Uma ideia deliciosa que acabou por tornar Gaultier no predecessor de outros desfiles igualmente divertidos, como a coleção da primavera/verão de 2017 de bonecas de papel de Jeremy Scott para a Moschino ou o fato em forma de esboço que Jacquemus apresentou na coleção da primavera/verão 2016.

7. Alta-Costura outono/inverno 2006

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O surrealismo, marcado pelo seu foco em partes do corpo fragmentadas, sonhos e a desordem do quotidiano, acabou por se tornar num fator óbvio de atração para Gaultier. Isso ficou especialmente claro no desfile de Alta-Costura Les Surrealistes (Os Surrealistas), de 2006, onde os chapéus eram feitos de cabelo, lembrando as mãos peludas e a chávena de chá de Meret Oppenheim. Uma modelo usou um candelabro como acessório de cabelo e Erin O´Connor desfilou com um vestido em chiffon e organza roxo onde o tecido torcido ao longo do tronco foi pensado para imitar o contorno das costelas e clavículas. A exteriorização da anatomia do corpo humano foi um elemento consistente de Gaultier, desde o famoso macacão nude bordado com um coração e veias vermelhas brilhantes apresentado em 2003 - também usado por O´Connor - até ao vestido com franjas burlescas e veias visíveis concebido para a tour da cantora francesa Mylène Farmer, em 2009.  

8. Alta-Costura primavera/verão 2007

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A iconografia religiosa sempre foi outro dos temas recorrentes na carreira de Gaultier. O desfile de alta costura Virgins (ou Madonnas) tornou essas inspirações particularmente explícitas, uma vez que inúmeras modelos desfilaram com auréolas na cabeça. A par com as modelos de aparência celestial como Lily Cole ou a colaboradora de longa data Dita Von Teese, que desfilaram como se de estátuas em pranto se tratassem (com pequenas manchas de lágrimas pretas e vermelhas a cair dos seus olhos), a visão religiosa de Gaultier, muito ao estilo camp, incluía impressões em vitrais, corações sagrados adornados com brilhantes e alguns vestidos verdadeiramente sumptuosos. 

9. Outono/inverno 2007

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É preciso algo memorável para que os espectadores sorriam durante as Semanas de Moda, que acabam por ser um sem fim de desfiles, festas e visitas a showrooms. Mas o desfile outono/inverno 2007 de Gaultier conseguiu, em grande parte graças a Coco Rocha. A modelo começou a aprender dança irlandesa quando era pequena e abriu o desfile não com uma caminhada normal, mas com um Celtic Jig, uma dança celta. Com penas no cabelo e vestida com um casaco vermelho e um kilt, Rocha trouxe um quê de alegria ao desfile, enquanto pulava e rodopiava passerelle fora - um começo adequado para a coleção de Gaultier composta por uma enorme quantidade de tartan. Gaultier encomendou um par de sapatos de dança, especialmente para esta performance, que chegaram apenas duas horas antes do desfile.

10. Primavera/verão 2010

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Gaultier voltou às suas raízes no desfile da primavera/verão 2010, brincando com corpetes, espartilhos e soutiens em todas as suas interpretações possíveis. Foram feitos em ganga; incorporados em macacões; espreitaram por baixo de gabardines; apareceram em tons de laranja brilhante ou khaki discreto; foram parte integrante de um vestido em cetim em rosa perolado que teria sido apropriado para uma estrela de Hollywood (se a estrela em questão estivesse disposta a calçar Doc Martens). No entanto, foi a modelo Jourdan Dunn, à data com 19 anos, que roubou o estrelato, desfilando grávida de sete meses, com a sua barriga perfeitamente acomodada num espartilho muito próprio. Aludindo às colaborações de Gaultier com Madonna, em Dunn esses detalhes familiares assumiram um novo significado, assemelhando-se mais a uma armadura protetora. 

11. Primavera/verão 2011

Gaultier tem sido vocal - e visível - no que diz respeito aos esforços que faz para mostrar as suas criações numa variedade de corpos que ultrapassem as limitações da modelo de Moda dita habitual. Ao longo dos anos, isso significou uma maior pluralidade de idades, tamanhos e identidades de género comparativamente a outras passerelles. Para a estação quente de 2011, Gaultier inspirou-se em Beth Ditto, vocalista da banda Gossip, para abrir o desfile num vestido metalizado cortado a laser completado com um elaborado espartilho em forma de casaco, enquanto cantava River Deep, Mountain High à capella. Gaultier também desenhou o vestido de noiva da cantora quando esta se casou com Kristin Ogata,em 2013.

12. Primavera/verão 2013

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De vestir Madonna a fazer com que Björk desfilasse ao lado de Kate Moss e Portia de Rossi no seu desfile Orient Express, em 1994, Gaultier sempre valorizou o ponto de encontro entre a Moda e a música. O seu desfile da primavera/verão de 2013 foi ainda mais longe através de uma homenagem a uma série de artistas icónicos. Começou com várias sósias de Grace Jones, cujas silhuetas foram dispostas num conjunto de andaimes, para depois subir à passerelle Annie Lennox, ABBA, Boy George, Sade e um David Bowie de cabelo alaranjado, entre tantos outros. Nas notas do desfile podia ler-se: “Este desfile é baseado em fatos verídicos. Qualquer semelhança com eventos ou personagens reais não é pura coincidência.”

13. Primavera/verão 2014

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A dança constituiu uma parte importante da história da passerelle do criador. Desde o seu desfile da priamavera/verão 2009 onde fizeram parte um trio de bailarinos modernos, passando por uma coleção que lembrava os ensaios num estúdio (pense num número abundante de macacões justos!), até às meias de rede e pontapés típicos de uma dança (Alta-Costura da primavera/verão 2011), as criações de Gaultier costumavam ser vistas em movimento. O desfile da estação quente de 2014 ofereceu mais uma performance apresentada como dança. Com um painel de júri no fundo de uma passerelle, liderada pela atriz espanhola Rossy de Palma, os momentos musicais do espetáculo incluíram a atriz belga Hannelore Knuts, que dançou ao som de El Tango de Roxanne em Moulin Rouge; Karlie Kloss que dançou Vogue; e uma reviravolta memorável de Coco Rocha vestida de Danny do filme Grease.

14. Primavera/verão 2015

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Marcando a primeira fase do lento processo para se afastar da sua marca homónima, Gaultier anunciou, em 2014, que o seu desfile de pronto-a-vestir de 2015 seria o último. Este teve lugar no Le Paris Rex, local de concertos e cinema parisiense, e foi um espetáculo puro e duro. Diante de uma audiência de colegas da indústria como Alber Elbaz, Gareth Pugh e Rick Owens, Gaultier apresentou um extravagante e elaborado concurso de beleza, intitulado Election de Miss Jean-Paul Gaultier 2015. Uma secção apresentava modelos vestidas de editores famosos, incluindo Suzy Menkes, Grace Coddington e Carine Roitfeld. Outra envolvia tocar acordeão. No final, as musas de Gaultier, Coco Rocha e Anna Cleveland, disputaram a coroa - e foi um final de era digno de toda a sua carreira.

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