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O regresso da Balmain à Alta-Costura visto por dentro

24 Jan 2019
By Sam Rogers

O mais-do-que-famoso diretor criativo da Balmain, Olivier Rousteing, conversou com a Vogue sobre a sua primeira coleção de Alta-Costura de sempre e o regresso da Casa a estas passerelles.

O mais-do-que-famoso diretor criativo da Balmain, Olivier Rousteing, conversou com a Vogue sobre a sua primeira coleção de Alta-Costura de sempre e sobre o regresso da Casa a estas passerelles. 

Todas as imagens © Luc Braquet
Todas as imagens © Luc Braquet

“Na Moda há uma obsessão com o que é que real, com o que vês na rua. Podes quase chegar a um ponto em que é ‘tão real’ que o sonho se perde,” diz Olivier Rousteing, sentado numa secretária com tampo de vidro na sede da Balmain. Num dos cantos da sua secretária está uma pilha de waffles, frascos de compota e Nutella - uma imagem bem-vinda, ainda que rara na Moda, sobretudo na Alta-Costura. Rousteing está claramente a fazer as coisas de forma diferente. 

O regresso da Balmain à Alta-Costura, depois de um hiato de 16 anos, é a sua forma de fazer regressar o sonho. “Vivemos num mundo em que quase temos medo de olhar para o passado porque toda a gente está demasiado stressada com o futuro. Estou a olhar para o passado como uma forma de entender o presente e de poder, de facto, sonhar com um futuro melhor.”

O futuro de Rousteing é claramente brilhante - e atarefado. Em dezembro de 2018, desvendou o novo logótipo Balmain (“é contemporâneo, mas ao mesmo tempo vintage”); na semana passada lançou uma aplicação (“democratizar a Moda através do digital”); no próximo mês a loja da rua Saint-Honoré (“da qual estou muito orgulhoso”) vai ser inaugurada. Em setembro, a sua história vai ser contada num documentário. E a isto tudo acrescentamos o calendário oficial das Semanas de Moda. 

“Não estamos a fazer uma peça por causa das tendências, ou por causa do hype, estamos a criar peças intemporais. E isso é épico.”

Encontramo-nos um dia depois do desfile masculino para o outono/inverno 2019, um mês antes de revelar a coleção feminina e a uma semana da sua estreia nas passerelles da Alta-Costura. “Estou muito stressado,” conta-nos, apesar da sua postura não o demonstrar. “Sabes quando brincas com os miúdos mais velhos? Isto lembra-me de quando comecei a trabalhar com o ballet, quando via [as roupas] do Karl Lagerfeld e do Christian Lacroix, e agora é do tipo 'Oh meu Deus, agora sou eu'”.

O pronto-a-vestir de Rousteing sempre se caracterizou por ter detalhes incrivelmente intricados, mas na Alta-Costura elevou-os a um novo extremo. Pérolas, tweeds, padrões graffiti, plástico alcochoado, correntes de tecido, ganga e plumas competem com as silhuetas oversized. Os ornamentos para a cabeça foram idealizados em parceria com a House of Malakai e houve espaço ainda para óculos inspirados na Ópera que “são mesmo Alta-Costura,” diz Olivier. 

“A inspiração é Paris. É sobre a beleza de França,” conta o designer, ao apontar para o modboard, uma seleção de imagens elegantes que inclui muitas peças do arquivo da Maison. “Vou voltar aos básicos da Balmain,” diz referindo-se aos primeiros desfiles de couture de Pierre Balmain (fundador) e, mais tarde, de Oscar de la Renta - “um dos homens mais inclusivos da indústria da Moda” - que comandou a direção criativa da Casa francesa entre os anos de 1993 e 2002. 

Apesar de se ter inspirado no passado, Rousteing está a fazer o seu próprio caminho. Há uma peça em particular que ilustra isso na perfeição: um jumpsuit em plumas. “Mounsieur Balmain adorava plumas e isto é uma imagem moderna das plumas.” É essencialmente uma nova era para a malha, na qual o fio foi substituído por penas de avestruz italiana tingidas à mão, delicadamente amarradas e entrelaçadas. Foram precisas seis pessoas e 1.200 horas para concluir esta peça. “É uma mistura de tricô, crochê e plumas, com pérolas e cristais Swarovski entrelaçados no material,” explica-nos, enquanto estão a decorrer os fittings. Não há uma base (apesar “para o desfile” estar assente em tule), o que justifica a leveza da peça. 

O criador francês parece ter assumido a confiança do atelier Balmain. “Eles nunca têm medo de um vestido, ou de nada em geral,” afirma. “Eles encaram tudo como um desafio, esforçam-se imenso, e têm [muito sentido de] trabalho manual, são muito dedicados ao trabalho; é a paixão deles. Acho que é diferente na Alta-Costura: as pessoas vivem para estas roupas.” O facto de ninguém aqui, no atelier, ter medo de ser julgado é uma característica que Rousteing partilha: “Não estamos a fazer uma peça por causa das tendências, ou por causa do hype, estamos a criar peças intemporais. E isso é épico.”

Rousteing está naturalmente à vontade com as palavras, deambulando entre o francês e o inglês com uma cadência encantadora. Quando lhe pedem para resumir a essência da Balmain numa única palavras, não hesita :”incontrolável”, diz suavemente em francês.  “É sexy, confiante e moderna, mas ao mesmo tempo sou obcecado pelo passado. Adoro a diversidade, mas também gosto de me inspirar na cultura francesa. A Balmain é sobre diversidade, confiança e ser-se único.” E considerando o plano da Mayhoola, a empresa mãe da Valentino, que comprou a Balmain em 2016, é uma boa palavra. “No início, nunca pensei no que a Balmain poderia ser hoje,” reflete Olivier. “Por isso é que escolhi a palavra incontrolável, porque não consegues prever o que vai acontecer amanhã". 

 

Reveja todos os desfiles da Semana de Moda de Alta-Costura, aqui. 

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