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Como lidar com a solidão de ficar em casa

13 Mar 2020
By Vogue

Desde reconfigurar o seu espaço até limpar o seu guarda-roupa, eis como pode olhar para o lado mais positivo nestes tempos que passará por casa.

Desde reconfigurar o seu espaço até limpar o seu guarda-roupa, eis como pode olhar para o lado mais positivo nestes tempos que passará por casa. 

"Sei que isto provavelmente soa horrível", confidencia um amigo do mundo da Moda ao telefone, "mas uma parte de mim começou a sentir uma sensação de alívio com o facto de não ter que me comprometer com eventos sociais agora". Cerca de 10 minutos depois, aparece um meme no meu feed do Instagram com a seguinte legenda: “Toda a gente: está tudo cancelado por causa do coronavírus. O meu lado introvertido e anti-social: (inserir imagem de uma celebridade aliviada)." Deixando de parte a insónia causada pelo medo que o rápido crescimento desta pandemia representa, poderá haver uma parte de vocês que se possa relacionar. 

Coachella, o festival de flores de cerejeira de Tóquio e uma temporada inteira de jogos da NBA juntaram-se a uma lista crescente de eventos públicos adiados/cancelados; ajuntamentos de pessoas parecem estar a ser cancelados e remarcadas para outra altura. Mas como  Lidewij Edelkoort, especialista em previsões de tendências, disse ao Dezzen a 9 de março, com esta conjuntura pode vir um espaço para alguma interiorização à medida que o nosso ritmo de trabalho e de vida social se começam a adaptar. 

"O impacto deste surto irá obrigar a uma diminuição do nosso ritmo, a evitar apanhar voos, a trabalhar a partir das nossas casas e a aprender a sermos auto-suficientes e atentos”, observou Edelkoort. "Não há forma de continuarmos a produzir tantos bens e tantas escolhas com as quais nos habituámos à medida que fomos crescendo." 

Por isso, este é o momento em que todos deveríamos abraçar o lado potencialmente mais saudável da "solidão" e ir ao fundo da questão na esperança de um futuro coletivamente mais brilhante? Talvez. Mas primeiro, precisamos de reconhecer que há uma grande diferença entre optarmos por abraçar a nossa paz restauradora e sentirmos que nos tornámos pioneiros da nossa própria ansiedade social no meio deste pico de pânico do Covid-19 - ou que o isolamento causado pelos planos sociais cancelados e o trabalho indeterminado a partir de casa está a uma realidade cada vez mais perto de si. 

Quão generalizada é a solidão?

A pesquisa Community Life Survey, realizada no reino Unido, em 2018, mostrou que jovens entre os 16 e os 24 anos consideraram embaraçoso admitir sentir solidão, vendo-a como uma possível “falha”. A vergonha de poder falar sobre o sentimento que é a solidão, pode estar a esconder as estatísticas que apontam já para uma prevalência internacional. No final do ano passado, foi noticiado que nos EUA, a Geração Z tinha uma pontuação de solidão de cerca de 48 numa escala de 20 a 80, em comparação com uma pontuação de 39 para as pessoas com 72 anos ou mais. Enquanto que no Japão, 77% das pessoas que relataram passar por solidão, procuravam distrair-se com televisão, jogos de computador e vídeos. 

É ainda provável que cenários que detalham sentimentos de solidão não sejam totalmente representados nas redes sociais, enquanto continuamos a processar o potencial impacto do Covid-19 nas nossas vidas, na das nossas famílias e na dos nossos colegas de trabalho. Por um lado, isto pode levar a que tenha sentimentos de isolamento mais extremos. Por outro, no meio de imagens desfocadas e estatísticas que induzem imediatamente ao pânico, sente que é “errado” tentar encontrar alguma normalidade na solidão proporcionada por uma doença, que não só é altamente contagiosa, como coloca muito em jogo a uma escala mundial. 

Está na hora de redefinir os limites?

“Eu quero realmente acreditar no poder que as redes sociais têm para fazer o bem, agindo como um veículo para uma justiça coletiva que está acima do egoísmo de selfies e objetivos pessoais. Quero acreditar que funciona como uma rede, conetando indivíduos isolados que estão a à procura de um sentido de comunidade online”, escreveu a jornalista Sarah Raphael, no seu livro Mixed Feelings. 

No livro - que “explora a vida moderna e a internet, uma discussão de cada vez” - a co-autora Naomi Shimada, que também é modelo e escritora, faz uma interessante observação sobre como dividimos o nosso tempo e as nossas personalidades online. “Graças às redes sociais, não sinto que tenho que escolher fazer parte apenas de uma comunidade, mas que posso fazer parte de tantas outras que alimentam uma parte diferente da minha alma e do meu ser, e que me permitem ainda absorver tudo o que me faz ser eu própria."

Mas não são só estas várias comunidades online a que as jovens mulheres se estão a dedicar. Entre millennials (e posso dizer isto como uma), há uma prática de excesso de subscrições a eventos que dizemos sim na teoria, mas na realidade não queremos mesmo ir. 

Se a arte de dizer não às obrigações sociais às quais nunca estivemos interessados em cumprir se tornou cada vez mais uma questão geracional, então a primavera de 2020 deu-nos a saída perfeita, sem incluir a necessidade de desculpas para o conjunto de eventos e exigências (por vezes esmagadoras) que colocamos sobre nós mesmos. Em suma: será este o momento em que admitimos que tentar estar presente em todas as frentes é insustentável, como explica Edelkoort, e redefinimos os limites?

Uma oportunidade para autorreflexão

A verdade é que não há problema em sentir que precisa de "desligar" por um tempo. À medida que a intensidade dos media aumenta, também a nossa - muito racional - necessidade de nos lembrarmos das coisas que estão ao nosso alcance e que nos trazem alegria. Se está secretamente a sentir os efeitos positivos de uma semana de trabalho sem maquilhagem e a redirecionar as duas horas por dia que normalmente passaria no trajeto casa-trabalho/trabalho-casa a estudar as posições de ioga que pode fazer contra a parede do seu quarto, não está sozinho.

Com o tempo já extenso que gastamos nas redes sociais prestes a explodir, esperamos que comece a surgir uma narrativa que defenda uma abordagem mais positiva, liderada pela comunidade, para responder a ordens cada vez mais difusas de ficar em casa (auto-impostas ou obrigatórias). Também é provável que mude o tipo de conteúdo que vemos nos nossos feeds. A incrível conta de Instagram cujo tema é decoração @somewhereiwouldliketolive já começou a integrar no feed um tema de escritórios em casa que são mais #somewhereiwouldliketowork e provavelmente não somos os únicos a notar um aumento acentuado de 'fotos fitness’ nas últimas 48 horas tiradas exatamente no mesmo cenário doméstico.

Com as redes sociais a substituirem formas mais diretas de contato social, será que essa oportunidade de autorreflexão corre o risco de ser dominada por um mar de tutoriais de maquilhagem feitos por influenciadoras de beleza entediadas? Será que vão todos começar a partilhar os seus treinos em casa? Talvez durante um tempo. Mas não será esta também uma oportunidade de reset que redefina melhor a forma como equilibraremos as nossas obrigações sociais e a vida profissional nos próximos anos?

Aqui estão as dicas da Vogue para gerir a solidão nesta primavera.

1. Fique atento ao próximo

Para quem sofre de ansiedade, só o pensamento de ser obrigado a passar um tempo sozinho pode desencadear pensamentos avassaladores. Se você ou alguém que  conhece estiver a enfrentar ansiedade ou depressão, entre em contato com o seu médico.

2. Planeie o seu tempo

Se estiver em casa, isso não significa que não possa fazer coisas. Desde a sincronização do treino que faz na sala de estar com o da sua amiga, a escolher uma hora específica para o almoço e a respeitá-la (tente desafiar-se a experimentar uma nova receita por dia) ou definir um horário diário para uma chamada de Facetime com um amigo que já não vê há algum tempo, ser criativo dentro da estrutura de uma rotina fixa ajuda especialmente se tiver força de vontade para limitar o tempo que gasta nas redes sociais (use o modo avião, se necessário). Os serviços de streaming são ótimos, mas nem sempre são a maneira mais energética / produtiva de passar o tempo livre. Antes das 18h, são absolutamente um não.

3. Seja consciente da sua privacidade

A ocultação da sua localização não só reforça a sensação de que está num santuário particular, mas também protege contra uma revelação indesejada da sua morada. O nosso conselho? Deixe de lado a marcação geográfica.

4. Divida a sua casa por zonas

Não importa o quão pequena seja a sua casa, pense em dividi-la por 'zonas'. Todos sabemos que um dia passado na cama não faz da sua casa um escritório produtivo, mas pensar e separar a sua casa em compartimentos de trabalho, de descanso e de espaços de lazer, pode ajudar a equilibrar o seu humor, assim como um horário mais organizado. Adicionar plantas, gerar melhores espaços de iluminação e desocupar espaço do chão pode também ajudar a transformar o seu ambiente, delineando áreas de diferença. 

5. Escreva

Entre conselhos sobre quais os filmes que deve ver e os podcasts que deve ouvir, há um passatempo criativo seriamente subestimado que pode ajudar a lidar com sentimentos de solidão sem necessidade de internet: a escrita. Lembre-se de que os seus pensamentos e sentimentos são importantes, mantendo um diário, iniciando o roteiro do filme que sempre quis escrever ou simplesmente desencadeando um fluxo de consciência.

6. Limpe o guarda-roupa

Esta é a Vogue, por isso não vamos deixar de lhe dizer que escave o seu guarda-roupa até às peças que precisam de ser restauradas ou de uma nova vida. Faça Skype com um amigo que também precise de fazer o mesmo e para que também possa obter uma segunda opinião sobre despedidas complicadas. Depois orgulhe-se do espaço que libertou, mesmo a tempo da primavera. 

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