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Será o Instagram a nova biblioteca da Geração Z?

11 Sep 2019
By Radhika Seth

À medida que o Instagram muda a forma como lemos através de feeds literários curados e clubes literários de celebridades, a Vogue investiga a forma como o anti-herói digital revolucionou o futuro dos livros impressos.

À medida que o Instagram muda a forma como lemos através de feeds literários curados e clubes literários de celebridades, a Vogue investiga a forma como o anti-herói digital revolucionou o futuro dos livros impressos.

©Getty Images
©Getty Images

Quando o Kindle foi lançado em novembro de 2007, foi denominado como um verdadeiro game changer. Tal como o iPod em 2001, era esperado que o e-reader revolucionasse o mercado e anunciasse a extinção dos seus antecessores. 

No início, a resposta parecia promissora - nos Estados Unidos da América, o primeiro Kindle esgotou em menos de seis horas -, mas uma década mais tarde, a situação não podia ser mais diferente. Estatísticas do Nielsen BookScan mostram que as vendas dos livros físicos estão a aumentar, com o mercado de print no Reino Unido a crescer 2.1% em 2018. É o quarto ano de crescimento consecutivo para o setor - de acordo com a Association of American Publishers, as vendas de e-books experienciaram um declínio de 3.6% durante esse mesmo período de tempo. 

O que está, então, por detrás desta mudança? Os analistas citaram tudo, do cansaço de estar sempre colado ao ecrã sentido entre os millennials ao fim das livrarias independentes, mas existe outro fator em jogo: o Instagram. Desde o aparecimento da rede social em 2011, o hashtag #Bookstagram tem sido usado mais de 34 milhões de vezes. Já o hashtag #Kindle aparece apenas 2.5 milhões de vezes. Faça um scroll pelo seu feed e é possível que veja fotografias de livros em cenários lindíssimos, prateleiras organizadas por cores, reviews dos últimos lançamentos e - à medida que os nossos círculos se tornam cada vez mais pequenos - as mesmas capas a aparecerem vezes e vezes sem conta. 

O crescimento dos clubes literários do Instagram 

"O Kindle já teve o seu momento", diz Jane Curry, detentora e diretora executiva da Ventura Press, uma das maiores editoras independentes da Austrália. Apesar dos títulos da empresa estarem disponíveis no formato de e-book, Curry viu as vendas estagnarem. "Nunca fui grande fã", acrescenta. "Não é um objeto bonito e a experiência de leitura é transacional." A maioria dos millennials, acredita, gostam de comprar exemplares bonitos numa livraria local e falarem sobre eles, seja em pessoa ou no meio digital. "Depois, o Instagram influencia a curadoria de listas de leitura e, mais tarde, aquilo que é lido", conclui. Esta curadoria acontece frequentemente na forma de clubes literários no Instagram, contas que recomendam novos títulos e encorajam debates na secção de comentários. Dos feeds fundados por Emma WatsonReese Witherspoon a comunidades como @wellreadblackgirl, estas contas estão comprometidas aos livros impressos e têm vindo a ganhar cada vez mais seguidores devotos. 

Outro exemplo é a @subwaybookreview, uma conta que documenta aquilo que as pessoas lêem no metro de Nova Iorque. É a criação de Uli Beutter Cohen, que se mudou de Portland para a Big Apple em 2013 e queria ligar-se a pessoas que adorassem livros. Seis anos depois, tem colaboradores em diversas cidades, entre elas Berlim, Santiago e Laore. "O Instagram mudou a forma como encontramos os livros a percepção que temos das pessoas que os lêem", conta à Vogue. Notavelmente, as suas imagens mostram pessoas a segurar livros físicos. "Muitos adolescentes optam por ler livros impressos porque sabem que os seus dados não estão a ser registados", acrescenta. Mas é estética também é um ponto fundamental. "A capa é importante", concorda. "As pessoas dizem-me que encontram livros de duas formas; ou por recomendação de algum amigo, ou porque adoram a capa e decidem comprar." 

Julgar o livro pela capa 

Crescentemente, os livros são apreciados não só pelo seu conteúdo, mas também como objetos de beleza. Emma Straub, romancista e proprietária de uma livraria, descreveu esta mudança à Vulture, defendendo que "o livro How To Write an Autobiographical Novel de Alex Chee foi publicado tantas vezes que o boca-a-boca se transformou no olho-a-olho. Para além de teres pessoas a dizer que já tinham ouvido falar sobre aquele livro, tinhas pessoas a saber exatamente como é que o livro era." 

Os designs mais irreverentes funcionam melhor porque, especialmente no Instagram e na Amazon, são vistos em miniatura. Curry reconhece este novo foco no design no mundo editorial. "As nossas capas são muito influenciadas pelo Instagram", diz. "Aliás, o manuscrito para um dos nossos novos lançamentos - Special, de Melanie Dimmitt - chegou com um mood board e um esquema de cores." 

Isto significa que estamos a comprar livros porque pensamos que são bonitos e porque os vimos nos nossos feeds? O Instagram pode ser uma fonte de inspiração, mas também pode promover a competitividade e o sentimento de insuficiência. No ano passado, um artigo satírico publicado no The Guardian apresentava o título, "Não tem tempo de ler um livro? Basta posar com ele no Instagram", sugerindo a imagem que uma pessoa pode ter quando publica sobre livros, bem como sobre estilo em detrimento de substância. 

Poderão os Insta Novels ser o futuro? 

Se os Kindles e as capas com designs simples são as primeiras "vítimas" do Instagram, alguns receiam que os romances poderão ser as próximas. Em agosto de 2018, a New York Public Library introduziu os "Insta Novels", uma iniciativa que permitia que os utilizadores lessem clássicos como Alice’s Adventures in Wonderland, de Lewis Carroll, nas stories do Instagram. "Sem saber, o Instagram criou a prateleira perfeita para este novo formato de romance online", disse Corinna Falusi, sócia e chief creative officer da Mother New York, a agência por detrás do projeto. "Do modo como mudas de página à forma como descansas o teu polegar enquanto lês, a experiência [dos Instagram Stories] é muito semelhante àquela de ler um livro de bolso." 

Nesse caso, será que o regresso dos livros de bolso vai provar ser apenas uma fase, conduzindo o mundo da literatura a uma era mais digital? Beutter Cohen não está convencida. "Nós gostamos de segurar os livros nas nossas mãos", diz. "Gostamos de sublinhar frases que mexem connosco. Gostamos de dar um livro a outra pessoa e ver até onde é que essa obra a pode levar. Por isso, não, não acho que o livro impresso alguma vez deixará de estar na moda." 

Radhika Seth By Radhika Seth

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