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O Cinema veste...

20 Feb 2020
By Ana Murcho

Há filmes sem paixões assolapadas, há filmes sem armas de fogo, há filmes sem gritos e choro, o que não há, por mais voltas que o mundo dê, é filmes sem guarda-roupa. E depois há filmes que têm guarda-roupas do caraças.

Há filmes sem paixões assolapadas, há filmes sem armas de fogo, há filmes sem gritos e choro, o que não há, por mais voltas que o mundo dê, é filmes sem guarda-roupa. E depois há filmes que têm guarda-roupas do caraças. 

What A Way To Go (1964) © Getty Images
What A Way To Go (1964) © Getty Images

Se lhe dissermos que Betsy Heimann é um génio, provavelmente irá revirar os olhos e pensar “Who the hell is Betsy Heimann?” Mas acredite que não incorremos em erro. Betsy Heimann é um génio. Um génio que está atrás das câmaras há tantos anos, em modo silêncio, que nem damos por ela. Exemplos? O combi basicozinho de calças pretas e camisa branca de Mia Wallace (Uma Thurman) em Pulp Fiction (1994), que fez disparar as vendas de white shirts, é dela. Os fatos bem cortados dos sacanas, perdão, protagonistas, de Reservoir Dogs (1992), também. Os jeans à boca de sino e os blazers de camurça de Almost Famous (2000)? Idem.

Pulp Fiction (1994)
Pulp Fiction (1994)

Onde há uma estrela, há Miss Heimann. A costume designer é uma das mais consistentes numa indústria em permanente mutação, e o seu dedo mágico é um dos mais valiosos da sétima arte. Porque, verdade seja escrita, a escolha da roupa de um personagem é muito mais do que um capricho de um (ou uma) fashion lover. É um ato que define o rumo, e em muitos casos o sucesso, de uma longa-metragem. Basta pensarmos que a personagem de Shirley MacLaine em What A Way To Go (1964) nunca seria a mesma sem a orgia visual dos seus looks. Caso não conheça a obra (preferimos acreditar que isso não é uma hipótese), eis um resumo do plot, em termos puramente estilísticos: entre os seus casamentos com Larry Flint (Paul Newman) e Pinky Benson (Gene Kelly), Louisa May (MacLaine) apaixona-se pelo milionário Rod Anderson (Robert Mitchum). A dada altura, recorda-se de como a sua vida com Rod parecia “Um daqueles filmes glamorosos de Hollywood, onde tudo gira à volta do amor e de ‘o que é que ela vai usar a seguir’”.

O que vemos nesse momento é uma das cenas mais incríveis de todos os tempos. Não, não é um exagero. Louisa muda de roupa não uma, não duas, mas 15 vezes no espaço de cinco minutos e vinte e dois segundos - escrevemos por extenso, porque parece muito, mas feitas as contas ela muda de outfit a cada 20.8 segundos. Se isto não é uma proeza da mente genial por detrás do guarda-roupa, ou melhor, de Edith Head, não sabemos o que é.

 

Belle De Jour (1967)
Belle De Jour (1967)

E por falar em Edith Head... Perde-se a conta ao número de filmes em que a figurinista decidiu as fatiotas que tornam o argumento real. A sua página do IMDB refere 560 créditos entre 1925 e 1982, período durante o qual foi nomeada ao Óscar em 35 ocasiões (levou a estatueta 8 vezes). Os mais nostálgicos recordar-se-ão das repetidas colaborações com Alfred Hitchcock, onde as saias travadas significavam tentação, mais do que pudor, e dos vestidos impressionantes de Bette Davis em All About Eve (1950), dos vestidinhos inocentes de Audrey Hepburn em Roman Holiday (1953). Como diria um jornal sensacionalista, “It’s clothes, bitch!”

E são essas roupas que determinam, muitas vezes, a eternidade de um filme. Heathers (1988), sobre a angústia teen dos idos anos 80, não seria o mesmo sem os blazers de xadrez e os chumaços de Winona Ryder e companhia; American Gigolo (1980) passaria mais despercebido sem a intervenção de Giorgio Armani, que vestiu Julian Kaye (Richard Gere) e do je ne sais quoi da Bottega Veneta de Michelle Stratton (Lauren Hutton); Annie Hall (1977) seria apenas semi-incrível sem os looks masculinos de Diane Keaton, cuja indumentária, escolhida a dedo por Ruth Morely, é inspirada na própria Diane.

The Great Gatsby (2013)
The Great Gatsby (2013)

E o que dizer da extravaganza de The Great Gatsby (2013), na versão de Baz Luhrmann, onde a Prada contribuiu com cerca de 40 peças, e do bacanal apoteótico de Marie Antoinette (2006), onde as pérolas e as penas nos intoxicam (uma intoxicação boa, vá) tanto como os outfits de Margot (Gwyneth Paltrow) em The Royal Tenenbaums (2001)? Sim, esses que já tantas vezes tentou replicar no Halloween, a anos-luz dos polos Lacoste e do fur coat que dão cor à heroína de olhos tristes.

Marie Antoinette (2006)
Marie Antoinette (2006)

Caso a campainha para o intervalo desta curta-metragem ainda não tenha tocado, acrescentemos as nossas apostas, porque isto de passar os fins-de-semana dentro de uma sala escura dá-nos algum poder de edição: sem qualquer ordem de preferência, os incontornáveis Belle De Jour (1967), pelo que seremos eternamente gratas a Yves Saint Laurent; o apocalipse futurista de Barbarella (1968), cortesia de Paco Rabanne e Jacques Fonteray; e a melancolia romântica de In The Mood For Love (2000) e de A Single Man (2009), pelas mãos de Tom Ford - que também realiza o filme. Óscar Honorário para Atonement (2007), com o vestido verde de Jacqueline Durran usado por Cecilia (Keira Knightley), num dos pontos altos da história, a fazer dos nossos sonhos de consumo um lugar mais bonito.

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