Opinião   Editorial  

Editorial Julho 2019

06 Jul 2019
By Sofia Lucas

"E tudo se resume a isso: todas as vidas estão inter-relacionadas. Estamos todos presos numa incontornável rede de mutualidade. O que quer que afete um destino, afeta todos indiretamente."

- Martin Luther King 

© Branislav Simoncik
© Branislav Simoncik

Generation Connected

Sucede o X e o millennial Y, e ocupa o último lugar na ordem alfabética das categorias geracionais. É rotulada como geração Z, precisamente a que recusa e desconstrói os rótulos - porque o importante é não se definir -, a que quebra e contesta vigorosamente todos os estereótipos, definições de género, idade ou classe e valoriza a identidade fluida. A que exalta a individualidade e entende a diferença. Nasceu numa era 100% digital, nunca conheceu o mundo sem internet. É uma geração hipercognitiva, capaz de viver múltiplas realidades, presenciais e digitais, ao mesmo tempo. Vive a ressaca da vida em rede e da hiperexposição desmedida dos millennials e dá lugar à espontaneidade. São autênticos e expõem as suas fragilidades, intimidade explícita e valorizam a transparência. As suas selfies são reais, mostram-se por inteiro e sem máscaras. São realistas, pragmáticos, e buscam satisfazer as suas necessidades financeiras, mas acima de tudo o enriquecimento pessoal, emocional e sensorial. Praticam o pensamento lógico, são autodidatas e responsáveis. Um traço surpreendente dos novos jovens é que eles constroem e não rompem. Dialogam, entendem e agregam. São avessos à polarização, compreendem a diferença. O diálogo é a ferramenta e a rede o seu campo de conciliação. São ativistas, compassivos e ponderados.

Esta geração Connected transita por múltiplas comunidades e faz parte de diversos grupos. Não importa a ideologia ou a corrente de pensamento porque existe sempre um ponto de conexão entre as pessoas. Por isso, é radicalmente inclusiva, tem grande poder de mobilização e o seu interesse está interligado à diversidade. E, por consequência, esta será também a geração consumidora apenas do que for verdade. Os desdobramentos dessa busca são evidentes: como nenhuma outra geração precedente, os Zs são realmente multitask. Encomendam comida numa aplicação enquanto estudam, conversam com alguém enquanto mandam whatsapp num grupo de colegas, fazem download de uma música enquanto compram um vinil, fazem scroll ao mesmo tempo que folheiam as páginas de um livro. A noção de tempo sequencial dá lugar ao tempo paralelo, conectado, mobilizável. Vivem de forma prática, tão prática ao ponto de adotar um novo código universal baseado em memes, emojis e siglas que resumem expressões idiomáticas, porque, BTW, os atalhos são precisos e dois polegares têm de ser multifunção. Usam a sua capacidade crítica com leveza e humor porque são meme thinkers. Uma linguagem conectada com o presente sem perder as referências ao passado. E a vida em rede deve trabalhar para expurgar tudo o que é falso ou artificialmente criado ou comunicado. 

© Branislav Simoncik
© Branislav Simoncik

Esta é a geração que busca a verdade acima de tudo. Esta é também a nova geração Vogue. A geração Connected, a quem dedicamos especialmente a edição deste mês e a quem damos voz e espaço permanente no novo canal web homónimo, em Vogue.pt a partir de hoje, porque só realmente ligados podemos fazer sentido. 

Porque a Vogue é também isso mesmo, um canal, onde a singularidade irá exigir que cada um seja reconhecido como único, justamente porque prevalecem as múltiplas realidades, onde a experiência deve ser personalizada e customizada, porque o luxo supremo de estarmos todos ligados passa exatamente por assumirmos todas as nossas diferenças. 

A lenda com origem chinesa, Akai Ito, conta que, quando nascemos, os Deuses prendem um fio vermelho invisível ao redor dos nossos dedos mindinhos, que nos liga a quem estamos destinados a conhecer, ou, de alguma forma, vir a ajudar numa determinada situação. Segundo a lenda, do dedo, diretamente ligado ao coração, prolonga-se um fio vermelho, como uma extensão dos nossos vasos capilares. Esse fio conecta-nos, numa imensa rede de fios, a todos quantos estão destinados a viver, connosco, uma história de mútua aprendizagem e ajuda, independentemente do tempo, da distância e das circunstâncias que nos separam. Este fio pode ser mais curto ou comprido, pode estender-se ou emaranhar, distanciando-nos mais ou menos das pessoas a quem nos liga, mas nunca se irá quebrar. 

Independentemente da imagem romântica da lenda milenar, a verdade é que estamos todos ligados de uma forma tão palpável e tangível, numa rede, wireless ou não, onde os fios invisíveis são condutores das nossas próprias ações, as causas cujos efeitos retornam a nós, sempre e inevitavelmente, pela mesma rede. 

Os reflexos do comportamento da geração Z formarão provavelmente o maior abismo geracional já registado. Claramente, o acesso é muito mais valorizado do que a posse, característica já latente nos millennials, mas visceralmente exponenciada. Se, a esta nova camada, conseguir exercer o poder que augura, a transformação hoje em curso será vista como passado, em poucos anos. O consumo da verdade exigirá governos, empresas e apenas projetos capazes de atuar de forma singular, acessível e fundamentalmente ética.

Esta é a geração com tudo a aprender com o passado. Esta é a geração que tem tudo a ensinar ao passado.

© Branislav Simoncik
© Branislav Simoncik

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