David Ferreira: primavera/verão 2019

Black is the new black, diz David Ferreira, e, de repente, preto é tudo o que queremos usar na próxima época quente. Atreva-se a disputá-lo depois de ver a coleção do criador, apresentada esta sexta-feira na ModaLisboa Multiplex. Não vai conseguir.

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"S-T-A-U-N-C-H" intitula uma coleção que, curiosamente, se inspira no documentário de Albert e David Maysles, Grey Gardens, de 1975. O imaginário da dupla Bouvier costuma estar intimamente ligada a uma fotografia sumptuosa numa paleta cromática rica tanto em tonalidades como padrões, mas em Ferreira reinventa-se no Pantone mais negro - mas nem por isso mais dark ou menos exuberante. A veicular "a staunch elegance de Big and Little Edies no seu quotidiano decadente, rodeadas pelos escombros do seu passado como membros da alta sociedade Nova-Iorquina", explica o designer português, transparências e texturas em jogos de volumes e exageros na medida certa pintam o cenário da má sorte de mãe e filha Bouvier sem lhe retirar o legado aristocrático que caracterizou as protagonistas até à morte.

Mas se associa esta descrição a um lamento, não poderia estar mais longe da verdade - e basta um vislumbre das silhuetas em desfile, rematadas por impressionantes cabelos e maquilhagem a preceito, para perceber que a seleção de propostas é tudo menos isso: é antes celebrar a "beleza encontrada na decadência, na elegância 'firme e leal' destas duas mulheres que não foi desintegrada nem pela pobreza extrema nem pelo exilo social. Assim como na criatividade e individualidade do estilo pessoal de Little Edie", esclarece Ferreira, em comunicado.

O resultado das transparências, folhos, godés, recortes e pelo de carneiro num luto comemorativo que cobre organzas de seda, crepes de seda, chiffon de seda e renda confirma porque David Ferreira continua a ser um dos mais surpreendente e opulentos designers no panorama nacional.