Inspiring Women  

Daniela Ruah: "Quero dar a imagem de força às mulheres"

31 May 2018
By Irina Chitas

Sejamos sinceros: se há motivos para sentirmos orgulho nacional, Daniela Ruah é um deles.

Sejamos sinceros: se há motivos para sentirmos orgulho nacional, Daniela Ruah é um deles.

Daniela Ruah © Branislav Simoncik
Daniela Ruah © Branislav Simoncik

Daniela Ruah é uma mulher forte. Daniela Ruah é uma mulher simples. Daniela Ruah é uma mulher poderosa. E Daniela Ruah não tem medo de o mostrar, de o dizer, de o defender. Defender-se a ela, defender todas as outras mulheres. Acredita na igualdade e não se acanha de falar sobre isso, acredita na família e não o esconde, acredita nos valores e não tem pudor em ensiná-los pelo exemplo. Daniela Ruah pode não viver cá, mas é exatamente como as portuguesas de gema: pão pão, queijo, queijo, o que vemos é o que temos. E é tão refrescante saber que a honestidade resiste a tudo.

O que é que queria ser quando fosse grande?

(risos) Estava indecisa entre ser bailarina e atriz. Mas sabia que queria estar em cima de um palco. É aquela história habitual do "ai sempre soube que quis ser", mas é verdade. Sempre soube, os meus pais perceberam desde cedo que tinha aptitude para a parte da representação e para o show off, e foram alimentando essa vontade minha. Desde pequenina que gostava de estar no palco e não tinha vergonha e até me sentia maior e bem estando à frente de um público. E acabei por seguir mesmo. 

Quando foi para os Estados Unidos, os primeiros tempos foram árduos?

Os primeiros tempos foram difíceis por várias razões. A primeira foi por estar num ambiente que não era o meu. Apesar de ter nascido nos Estados Unidos, eu não cresci nos Estados Unidos e, logo, é uma cultura, uma política, uma gastronomia, tudo diferente daquilo que eu conhecia. E, depois, é preciso ter mais cuidado. Não digo que as ruas sejam perigosas, mas não é a nossa linha entre Lisboa e Cascais, que é muito mais segura. O tipo de crimes é muito diferente lá e cá. Então era um ambiente que não era o meu, tive que me habituar. Tinha imensas saudades de casa e, por causa da diferença horária, originalmente de Nova Iorque para Portugal que são cinco horas, só podia ligar para casa até uma certa hora, portanto sentia-me muito solitária na segunda parte do dia. Mas, ao mesmo tempo, como eu fui com a Benedita Pereira e tinha a Mariana Santos com quem também vivi, entretanto criámos lá um grupo muito giro de portuguesas e pessoal europeu em geral, deixei de me sentir tão solitária. Mas mais ou menos um ano depois de me mudar para Nova Iorque consegui encontrar uma agente, a mesma com quem estou agora, estamos juntas já há dez anos, e na primeira pilot season - entre janeiro e abril, que é quando eles começam a fazer castings para os episódios piloto - acabei por ficar com o filme Red Tails, do George Lucas, e esta série, que continuo a fazer e que foi agora renovada, a CBS pegou nela pelo décimo ano, já é oficial (risos). Dez anos!

É preciso muita persistência e muita força mental para ficar?

É, é porque nós podemos saber que vamos ouvir muitos "nãos", e que vai haver muita rejeição, mas saber e sentir isso na pele é muito diferente, por isso é super importante termos a convicção de continuar. E vão haver dias em que nos sentimos menos bem e com menos confiança, e depois falamos com as pessoas que gostam de nós e que nos dão uma injeçãozinha de autoestima e seguimos à carga outra vez.

Pensou em desistir?

Não. Não mas eu também tive muita sorte. As coisas aconteceram tão depressa que não houve tempo para pensar em desistir. Mas essa também não é uma palavra que eu use. Posso mudar o rumo, posso mudar de caminho, mas desistir nunca foi uma opção na minha cabeça. E depois também sabia que eu já tinha começado a minha carreira em Portugal, e mesmo quando estava nos Estados Unidos continuava a receber propostas de Portugal, e se as coisas não resultassem lá continuava a fazer o que gosto de fazer, mas em Portugal, o que também não me incomodava.

Enquanto figura pública, aconteceu aqui uma coisa chamada Internet, Instagram, redes sociais, e as coisas começaram a funcionar de maneira diferente. Sente responsabilidade naquilo que publica?

Sim, sim, sem dúvida. Tenho muita consciência dos seguidores que tenho. É engraçado, eu não sei o que é que veio primeiro, a galinha ou o ovo, se as pessoas me começaram a seguir porque eu tinha um certo estilo de vida, ou se o meu estilo de vida começou-se a adaptar por causa do tipo de seguimento que tenho, acho que foi um bocadinho das duas coisas. As coisas mudam de um dia para o outro porque nós, de repente, conseguimos ver e ouvir as opiniões das pessoas. É imediato agora, não é preciso fazer teatro para ouvir as reações do público. O público já está lá connosco, enquanto o episódio está a dar as pessoas estão a enviar comentários e a dizer o que é que gostam e o que é que não gostam. O que é que veio primeiro: a galinha ou o ovo? Eu acho que não mudei por ter mais ou menos seguidores, continuo a ser eu, mas como eu tenho a consciência de que um dia os meus filhos vão ver as coisas que eu postei no passado, também não quero fazer nada que lhes faça passar vergonhas a eles. Ao mesmo tempo, no seguimento, tenho muitas adolescentes; a grande parte dos meus seguidores são mulheres, ou raparigas jovens, e quero dar a imagem de força às mulheres, de que nós conseguimos, de que não precisamos da autorização de um homem para fazermos aquilo que nós queremos fazer, e de acreditar em nós próprias; quero mostrar que é possível ser mãe e trabalhar ao mesmo tempo, e acho isso super importante, porque muita gente diz "Ainda não quero ter filhos porque quero fazer carreira primeiro", ok, claro que a minha carreira se proporcionou [a que isto acontecesse], eu sei muito bem que, nesta indústria, se nós não temos um trabalho fixo como eu tenho a sorte de ter, é mais difícil de criar essa estabilidade para uma família, mas eu acho sempre que quando as pessoas dizem "não tenho tempo para ter filhos" ou "eu não tenho estilo de vida para ter filhos", mas nós não damos espaço na nossa vida para ter filhos quando não temos filhos (risos), quando temos filhos somos obrigados a fazer, e fazemos, e a nossa rotina, a moldura da nossa vida muda de formato.

E raramente é o momento certo.

Claro, pode acontecer sem querer e depois a vida adapta-se, e fica tudo bem, também pode ser planeado e corre tudo bem também. Mas é isso, tenho muita consciência dos seguidores que tenho e, apesar de agora estar muito na moda as fotografias sensuais e meio despidas… acho que a forma como abordamos a sensualidade com raparigas mais novas está muito em aberto neste momento. Então eu não me importo de postar algumas coisas desse género, mas esse não é o meu foco. Faz parte de quem sou, mas não é quem sou. 

O que se sente quando se olha para a mensagem que passa é que é muito honesta. E os seguidores também sentem isso, porque cada vez mais se percebe quando é que as redes sociais - e tudo o resto - são fabricadas. Para si é muito importante a honestidade em tudo?

É muito importante porque eu acho que não ser honesta não é sustentável. Porque eventualmente vamos ver as rachas nessa máscara falsa. Não é difícil ser eu própria porque eu sou eu própria (risos). É muito mais fácil, e já que a minha carreira é baseada em fazer personagens diferentes, ao menos que as minhas redes sociais sejam eu. E depois também é bom mostrar que podemos ter imensos seguidores e podemos ter um seguimento positivo sem ter que estar constantemente a mostrar o corpo. Nada contra quem faz isso, essa é a personagem que elas decidiram mostrar, esta é a vida que eu decido mostrar. O meu papel é de mãe, o meu papel é de atriz, o meu papel é de esposa, é de mulher trabalhadora, e tudo isso entra dentro das minhas redes sociais. Antigamente era super privada sobre a minha vida privada, mas sempre disse a mim própria que assim que me casasse e começasse a ter filhos, essa vida seria permanente e não tenho nada a esconder.

A sensualidade pode funcionar como empowerment. E se a Daniela publica uma fotografia a amamentar, funciona exatamente da mesma forma, com um intuito de normalização e de quebra do pudor.

Claro, quebra tabus, é verdade. 

E essa mensagem que passa - alguma vez lhe traz algum peso, por saber que está a influenciar alguém?

Em algumas coisas sim, em algumas coisas não. Por exemplo, se eu opto por comunicar alguma ideia política, ou alguma ideia político-social, aí penso duas vezes antes de pôr porque tenho de escrever muito bem, explicar muito bem, porque já sei que vai haver uma repercussão positiva e uma repercussão negativa. Aliás, sempre me afastei um bocadinho de fazer comentários político-sociais porque não me apetecia muito ter esse debate nas redes sociais. E depois fui-me apercebendo que não, se eu acredito nisto, vocês podem não concordar comigo, querem ter uma conversa nos comentários? Temos uma conversa nos comentários. Agora, se começarem com ordinarices e não sei o quê, aviso já que vou apagar tudo. Querem conversar, debatemos; querem fazer comentários parvos só para incomodar e zangar as pessoas, então vou cancelar. 

Como aquele post sobre a igualdade de pagamento?

Sim, e até fiquei chocadíssima com a quantidade de pessoas que começaram a dizer que não era verdade, que por lei o pagamento tem de ser por igual. Ok, pode ser lei, mas podem inventar-se mil e uma desculpas para as quais a mulher não ganha tanto como o homem. Claro que há uma falta de igualdade em termos de pagamento, existe. Não digo que isso aconteça a todas as mulheres, houve várias mulheres nesses comentários que disseram que nunca tiveram esse problema, ou que quando repararam que existia foram à luta e receberam o mesmo. Ótimo! O que nós queremos é isso, mas há muitas outras mulheres que não estão nessa posição, de todo.

Que haja essa consciência, pelo menos, que é coisa que há cinco anos não existia.

Mas eu acho que agora, cada vez mais, está-se a revelar quanto é que as pessoas ganham. Quando antes as pessoas assumiam que ganhavam o mesmo que o colega do lado, que trabalha as mesmas horas e faz as mesmas coisas.

E falar de dinheiro era tabu.

E continua a ser um bocadinho tabu. Eu também não ando a discutir com as pessoas quanto é que eu ganho, ninguém tem nada a ver com isso, mas se eu sei que estou a ganhar o mesmo que o colega que está ao meu lado, a fazer a mesma função, não tenho nada a dizer. Eu sou de igualdade, não é que as mulheres tenham que ganhar mais, não é isso que estou a dizer. É sobre igualdade.

Três mulheres que a inspiram?

A Catarina Furtado. A sério. Tenho imenso respeito por ela. Ela trabalha muito, é mãe de família - e é ótima mãe. Depois de falar com ela durante muito tempo percebi que somos muito parecidas em muitos aspetos. Para já, casámos as duas com homens que são ótimos pais, são super presentes, e que não dependem das mães para tomar decisões sobre as crianças quando nós não estamos, quando estamos a trabalhar. Tenho imenso respeito pela Catarina. E depois, claro, como embaixadora das Nações Unidas, por aquilo em que ela acredita, o empoderamento da mulher e da educação das raparigas. Por todas essas questões e mais algumas, tenho imenso respeito pela Catarina. Mesmo antes de trabalhar com ela, já me sentia assim.

Michelle Obama, ultra, ultra fã da Michelle Obama. Não só pela postura que ela tem, mas mais uma vez pelo marido que escolheu, porque nós vemos perfeitamente nas fotografias e nas entrevistas a linguagem corporal não se esconde e percebe-se perfeitamente que eles são apaixonadíssimos um pelo outro, o respeito que ele tem por ela, a forma como ele olha para ela, a forma como eles têm educado as filhas, e depois o facto de ela ter lutado imenso pela saúde da juventude americana, a comida nas escolas, promover o exercício, um estilo de vida mais saudável.

A minha mãe. A minha mãe criou a sua própria empresa, foi dona da empresa durante 25 anos, vendeu agora há pouco tempo. Como ela era dona da empresa, quando eu era mais pequenina ela arranjou maneira de trabalhar até às horas de eu sair da escola, depois ía-me buscar e passava o resto da tarde comigo. Quando eu era mais velha, ia a pé até ao trabalho dela, porque o escritório era ao pé da escola, e por aí em diante, até eu ficar mais independente. Mas ia-me pôr à ginástica, que era às dez da noite, ajudava-me a fazer os trabalhos de casa. A minha mãe mostrou-me que podia ser mãe a tempo inteiro, e mulher trabalhadora a tempo inteiro, e uma mulher independente. A minha mãe nunca precisou de um homem, a minha mãe queria a companhia de um homem. E eu sou a mesma coisa: eu não preciso de um homem, eu quero um homem.

Irina Chitas By Irina Chitas

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