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Arquivos do futuro

23 Oct 2019
By Ana Murcho

No dia depois de amanhã, algures entre o presente e o passado, estão as coisas que não conseguimos, nem queremos, esquecer. É lá que se escondem os segredos que dão vida à maior revista de Moda do mundo.

No dia depois de amanhã, algures entre o presente e o passado, estão as coisas que não conseguimos, nem queremos, esquecer. É lá que se escondem os segredos que dão vida à maior revista de Moda do mundo.

A história do affair entre a Vogue e a Arte perde-se no tempo. Uma completa a outra. Quando Joan Didion escreveu o ensaio Self-respect: Its Source, Its Power, em 1961, a americana ainda não era o portento literário dos dias de hoje – mas já se assumia como a voz mais consciente, e ousada, da sua geração. Foi esse artigo, publicado nas páginas da “bíblia da moda”, que a lançou para a estratosfera dos grandes escritores contemporâneos. O mesmo serve para Harper Lee, que no ano em que lançou o seminal To Kill a Mockingbird, pelo qual recebeu o Prémio Pulitzer, partilhou com a Vogue as suas inquietações sobre o amor no texto Love – In Other Words. E o mesmo serve, também, para a crónica de Gloria Steinem, a jornalista que confundiu o ativismo com missão de vida, sobre o badalado Black & White Ball de Truman Capote – semelhante review seria impossível em qualquer outra publicação. É um passeio da fama repleto de nomes que marcam os últimos 120 anos: Dorothy Parker. Patti Smith. Margaret Atwood. Beyoncé Knowles. São palavras que o tempo não apaga, nem quando a pegada virtual insiste em substituir o toque do papel. A história do affair entre a Vogue e a Arte perde-se no tempo. Junta, nas mesmas lombadas, o génio de Salvador Dalí e de Joan Miró, a visão de Edward Steichen e de Horst P. Horst, a ousadia de Helmut Newton e de Irving Penn. Como uma canção de amor, que vive de desejos e sonhos, a maior revista de Moda nasce da criatividade sem limites de Guy Bourdin e de Tim Walker, da irreverência de Steven Meisel e de Nick Knight, da sensibilidade atroz de Bert Stern e de Peter Lindbergh. A preto e branco, a cores, de todas as cores. Sem limites. A melhor imagem será sempre a próxima, a próxima, a próxima. A cada Vogue, a cada viagem, um universo de fotografias que explica ao mundo como é que o mundo é: as caras, as flores, as saias, as casas, as manias, as paixões, as conquistas, as guerras. O princípio e o fim. O nascimento e a morte. A esperança e o vazio. Dos rabiscos de Andy Warhol, ainda antes de ser o artista mais cool do planeta, aos desenhos de Eduardo Garcia Benito, George Lepape e William Bolin. Todos passaram por aqui. Todos ficaram aqui. Ser Vogue tornou-se a explosão de todas as coisas. O encontro entre o tudo e o nada. A história do affair entre a Vogue e a Arte perde-se no tempo. Enquanto escrevemos isto, muitas mais histórias se preparam para desafiar a eternidade. Não há outro destino, não há outra opção, que a mudança contínua. E essa consegue-se com a união das mentes mais brilhantes – uma espécie de colaboração invisível que sucede atrás do pano. Alfred Hitchcock. Federico Fellini. Nelson Mandela. Martin Scorsese. Lauren Bacall. David Hockney. Marc Chagall. John Huston. Mstislav Rostropovich. Orson Welles. Karl Lagerfeld. Dalai Lama. Todos foram editores convidados da Vogue. Todos partilharam o seu imenso saber com a Vogue – em entrevistas, em pequenas cartas, em longas dissertações. Pequenas obras-primas em forma de dádiva – os meus olhos pelos teus olhos, a minha voz pela tua voz. As melhores orquestras funcionam a várias (a muitas) mãos. Sempre. Entre o início do século XX e o momento de reviravolta marcado pelo pós-Segunda Guerra Mundial, as capas da Vogue US foram assinadas por uma série de artistas de renome. Na primeira linha, da esquerda para a direita: ilustração de Helen Dryden na edição de 1 de novembro de 1920; 1 de outubro de 1925, por William Bolin; 15 de novembro de 1926, por Eduardo Garcia Benito. Na segunda linha: 13 de outubro de 1930, por Gorge Lepape; 15 de fevereiro de 1935, por Carl Erickson; 1 de março de 1944, por Horst P. Horst. Na terceira linha: 15 de setembro de 1945, por Constantin Joffe; 15 de abril de 1946, por Carl Erickson; 15 de abril de 1959, por Richard Rutledge.  Uma das inúmeras contribuições do fotógrafo americano Edward Steichen para a Vogue, 1 de junho de 1934. “Andrea Johnson num vestido Adele Simpson”, por Cecil Beaton, na edição de janeiro de 1945. “Modelo em fato-de-banho Frances Sider”, junho de 1947, por John Rawlings.Os dois ingleses foram dos colaboradores mais prolíficos deste período. Dovima, uma das primeiras supermodelos, fotografada por Richard Rutledge para a edição de março de 1952. Mesmo quem não reconhece o nome de Horst P. Horst consegue identificar o seu estilo incomparável. São dele muitas das imagens que, ainda hoje, definem a aura da Vogue, nomeadamente na edição americana. Ao longo de quase três décadas, o alemão, que acabaria por se naturalizar americano, produziu centenas de histórias para a revista. Nesta página, uma série de imagens que ilustram o seu contributo desde o maravilhoso Mainbocher Corset, de 1939 (terceira linha, à esquerda) até à irreverência incipiente dos sixties (primeira linha, à esquerda, edição de outubro de 1963).   A supermodelo Veruschka numa túnica Emilio Pucci, fotografada por Henry Clarke, janeiro de 1965. Uma jovem Catherine Deneuve fotografada pelo seu então marido, David Bailey, edição de março de 1968.   Na edição de outubro de 2019 da Vogue Portugal, há mais imagens do Porefólio Vogue para explorar.

Ana Murcho By Ana Murcho

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