Inspiring Women  

Ana Moura: "Todos nós temos um contributo a dar neste mundo"

29 Nov 2018
By Irina Chitas

Tente ler esta entrevista enquanto ouve, dentro de si, a voz profunda de Ana Moura. Prometemos que é a melhor maneira de aquecer o coração nestes dias de gelo.

Tente ler esta entrevista enquanto ouve, dentro de si, a voz profunda de Ana Moura. Prometemos que é a melhor maneira de aquecer o coração nestes dias de gelo.

Ana Moura @ Branislav Simoncik
Ana Moura @ Branislav Simoncik

Ana Moura tem medos. Porque Ana Moura é humana e não só é preciso ser-se profundamente humano para cantar fado como é preciso ser-se profundamente humano para sentir a sua arte até às camadas mais recônditas da pele. Ana Moura diz-nos que não tem uma alma, tem várias, e que sortudos somos nós por podermos testemunhá-las a todas.

O caminho até sentir que conquistou a sua identidade foi longo? O que é que sentiu quando percebeu que a encontrou?

Está a ser longo. Acredito já ter encontrado uma identidade que se deve muito ao facto de ter um timbre fora do comum. Mas musicalmente continuo sempre na conquista da procura dessa identidade que creio não ser estanque.

Como é que lida com o medo?

Enfrentando-o. Já há muito tempo que tomei a decisão de fazer o que me deixa desconfortável e não permitir que o medo me impeça de arriscar em nada.

Gravitar à volta daquilo que outros podem dizer que não é fado é algo que antes a podia assustar, mas agora a entusiasma?

Não sei se me entusiasma. Mas apenas sigo o que faz sentido para mim e não para os outros. Aprendi que quero ser responsável pelas minhas próprias decisões e pelo caminho a seguir. É uma certeza que só eu posso ter. Se alguém não a entender, então é porque não era suposto servir-lhe. Acredito que todos nós temos um contributo a dar neste mundo. Este é o meu e para quem servir. 

Como é que é a relação de uma cantora com o silêncio?

Uma vez li umas palavras de José Tolentino Mendonça onde ele dizia: “O silêncio tem tudo para se tornar um saber partilhado sobre o essencial e os modos possíveis de nos reinventarmos.” Identifiquei-me. O silêncio sempre foi extremamente importante para mim. Quando me perguntam qual a característica da minha personalidade que mais me ajudou na conquista da minha evolução pessoal e profissional, respondo: "A capacidade de saber ficar em silêncio para conseguir escutar e criar".

E com os aplausos? O que é que lhe dão, que mais nada no mundo lhe consegue oferecer?

Os aplausos transmitem-me o retorno daquilo que eu dou. Fazem-me sentir que o que faço faz diferença na vida das pessoas e consequentemente a sensação pacificadora de dever cumprido. 

É preciso abrir a alma para cantar fado?

É preciso abrir as almas. Falo no plural porque sinto que quando canto me transcendo. 

É essa mesma alma aberta que procura na música que ouve?

Exatamente. Aquilo que procuro na música é tudo o que me transporta para onde nada mais me consegue transportar. Procuro a viagem única de quem tem a capacidade de se transcender e de me conseguir levar junto. 

Sei que tenta também incluir compositoras e letristas femininas nos seus álbuns. Sente que estas mulheres contam histórias com menos medo, ou talvez com uma sensibilidade que se aproxime da sua?

Sinto, essencialmente, que estas mulheres têm uma sensibilidade que se aproxima da minha. Mas com menos medos, de facto, do que há uns bons anos, com tudo o que se conquistou no universo e empoderamento femininos.

Se o fado se canta e chora, também se pode dançar. Estamos finalmente a libertar o fado do preconceito? 

Acredito e defendo que cada um deve responder naturalmente àquilo que a música lhes faz sentir, sem restrições. É para isso que a música serve, para nos libertar e nos fazer sentir preenchidos e compreendidos.

Li que se reconciliou com o facto de ter de abdicar de alguns aspetos da sua vida pessoal em prol da música, que tomou conta da sua vida inteira. Como é que foi este processo de aceitação?

Acabou por ser muito natural porque adoro, aceito e entendo o que me foi incumbido fazer neste mundo.

Encara o facto de ser profundamente emotiva como um defeito ou uma qualidade? Ou talvez os dois ao mesmo tempo?

Pode parecer um contra-senso mas o que sinto é que o facto de ser extremamente emotiva é uma qualidade para servir o próximo e um defeito para me servir a mim :) Mas é claro que, no final de contas, entendo que não poderia servir, na minha plenitude, se não tivesse toda essa emotividade.

Pode dizer-nos três mulheres que a inspiram?

Felizmente esta é uma pergunta difícil para mim. As mulheres que mais me inspiram são a minha mãe, tias e avó. Mas à parte destas mulheres, destaco a Nina Simone, Frida Kahlo e Amália Rodrigues.

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