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Alejandro G. Iñárritu: o rei da dor de Hollywood

17 Aug 2017
By Catarina D'Oliveira

Na semana do seu 54º aniversário, recordamos e ranqueamos a breve mas pungente filmografia do realizador de The Revenant e Birdman.

Para muito boa gente, Alejandro G. Iñárritu só se tornou um nome conhecido depois do explosivo ciclone inventivo de Birdman em 2014, que lhe valeu, no ano seguinte, os muito desejados Óscares da Academia nas categorias de Melhor Filme e Realizador. No entanto, o prodígio mexicano é um dínamo criativo desde a sua primeira incursão cinematográfica, no não tão longínquo virar do milénio.

Ao longo de 17 anos que se metamorfizaram em seis irrepreensíveis longas-metragens, Iñárritu é um dos mais entusiasmantes, reputados e enérgicos cineastas capazes de cruzar o apelo artístico e comercial em atividade em Hollywood. Em honra do seu aniversário, revisitamos e ordenamos subjetivamente a sua extraordinária filmografia.

6. BIUTIFUL (2010)

O regresso de Iñárritu à língua espanhola dá-se uma década depois da sua gloriosa estreia cinematográfica em Amor Cão – já lá iremos. Mesmo surgindo como a obra menos cotada da filmografia do realizador mexicano, Biutiful é um comovente conto sobre o amor, a paternidade e a culpa que é elevado por uma performance fora de órbita de Javier Bardem. A abordagem experimental – tanto técnica como ao nível do storytelling – foi aqui abortada em prol de uma narrativa mais convencional que pretende desenvolver um núcleo emocional forte, guiado por uma exploração intrincada da melancolia e da tragédia pessoal. Possivelmente foi este afastamento do dinamismo que usualmente marca o cinema de Iñárritu que tornou Biutiful uma obra menos equilibrada, ora fastidiosa e desinspirada, ora profundamente bela e pungente.

5. THE REVENANT – O RENASCIDO (2015)

Estamos preparados para as sequelas de colocar O Renascido tão abaixo na contagem, mas tudo ganha uma nova perspetiva se considerarmos a riqueza da filmografia de Iñárritu e, sobretudo, o facto de, em rigor, ainda não nos ter entregue uma má fita ao longo de quase 20 anos de carreira. Para sempre conhecido como "o filme que finalmente deu o Óscar a Leonardo DiCaprio", The Revenant – O Renascido é um poema frenético cravado a ferros e sangue frio na pele nua de um homem que o sofrimento manipula com deleite, maravilhando-se com a virgindade da terra, contraposta com a malevolência humana. Numa negra e demorada exploração do triunfo e instinto de sobrevivência do espírito humano, a ópera de Iñárritu é negra, visceral, visualmente assombroso e com sequências absolutamente brilhantes, mas debate-se repetidamente com a sua extensa duração e, sobretudo, como uma tremenda ambição filosófica que não consegue ser acompanhada pela expansão do magro argumento, acabando por sentir-se mais como uma "experiência" do que propriamente como um filme. 

4. BABEL (2006)

Odiado e reverenciado em igual medida, Babel é o subvalorizado, mas glorioso desfecho da Trilogia da Morte (além deste, composta também por Amor Cão e 21 Gramas). Com eventos trágicos e interligados a terem lugar entre quatro países diferentes – é, sem grande sobra de dúvidas, o cenário de maior amplitude da sua filmografia – Babel valeu a Iñárritu a distinção de Melhor Realizador no Festival de Cannes bem como sete indicações aos Óscares da Academia (incluindo nas categorias de Filme, Realização e Argumento). Regularmente criticado pela abordagem sentimentalista e manipuladora, Babel é, no entanto, um filme profundamente afetante, complexo e rico, explorando a ligação entre as suas personagens e inspirando-se no mito Bíblico titular onde Deus confundiu as línguas dos vários construtores de uma Torre, a tragédia contemporânea do mexicano explora o tema das barreiras da comunicação e faz uma examinação profunda de vidas desligadas num mundo permanentemente interligado. 

3. 21 GRAMAS (2003)

A segunda entrada na Trilogia da Morte de Iñárritu marca também a sua primeira incursão do Cinema em língua de Shakespeare, mantendo a abordagem das películas que o antecederam e seguiram – com uma storyline entrelaçada em vários subplots. Provando que foi desde o início um cineasta corajoso e arrojado, Iñárritu reformou o conceito de montagem e provou que uma narrativa linear nem sempre é a resposta para uma obra de impacto. O desenrolar (aparentemente) acidental e caótico de 21 Gramas é o trabalho de um mestre da sua arte, à medida que se debate com os temas do amor, da perda, do luto, da esperança, do vício e da cura. Uma experiência esteticamente complexa e inesperadamente ambiciosa que é uma força a ser reconhecida! 

2. AMOR CÃO (2000)

Não há amor como o primeiro e este deslumbrante e feroz retrato do México Contemporâneo – ao qual alguns chamaram não inteiramente sem razão o "Pulp Fiction Mexicano" – marca a estreia cinematográfica absoluta de Alejandro González Iñárritu. Enérgico e envolvente, Amor Cão marca desde o primeiro momento o estilo inconformado do mexicano transformando-se instantaneamente num dos mais importantes exemplos da cinematografia latino-americana da contemporaneidade. Com uma estética crua e dolorosamente realista, Amor Cão não dá ao espectador tempo para respirar e desmonta o tema da deslealdade humana através do motivo da crueldade animal com uma dureza por vezes difícil de olhar de frente. É como um choque elétrico que nos obrigou a prestar atenção, e nunca mais perdemos Iñárritu de vista.

1. BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA) (2014)

No mesmo ano em que a glória parecia não poder fugir ao projeto de vida e paixão de Richard Linklater – o épico e íntimo Boyhood – eis que Alejandro Iñárritu resolve mergulhar-nos no seu mais meândrico origami, que continua a abrir-se, sem fim à vista, em direções e combinações absolutamente inesperadas. Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é uma obra virtuosa, uma maravilha contemporânea que contradiz a aparente tendência moderna de colocar filmes em caixas de comédias, tragédias ou fantasias, que nos arrasta, atrelados a uma arte destemida que irradia uma emoção, elegância e ego que são intoxicantes. A rebentar pelas costuras com uma energia crua e eletrizante, dá uma nova dimensão à forma de fazer e perceber Cinema enquanto faz observações satiricamente negras da cultura da celebridade, da tecnológica "aldeia global" e da profunda necessidade de criação artística de um homem que procura desesperadamente a sua própria alma. Surpreendente, original e um objeto de culto instantâneo

Catarina D'Oliveira By Catarina D'Oliveira

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