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Da passerelle para o grande ecrã
Tendências 4. 10. 2017
Vinte anos depois da morte, Alberto Pidwell Tavares chega às salas de cinema numa longa metragem assinada por Vicente Alves do Ó. Al Berto, o filme, é um contorno temporal da vida do poeta, logo após o regresso a Portugal, baseado em episódios reais, contados numa narrativa de proximidade.
Inerente a cada obra poética, existe um âmago de crueldade condicionada pela bagagem e sensibilidade de quem a lê. Fernando Pessoa, Ruy Belo ou Mário Sá Carneiro desconstruiram estados de alma através de suaves rendilhados e de incursões suculentas ao existencialismo, sendo hoje peças inestimáveis do património cultural literário.
Mas são poucos os que, em português, acontecem tão violentamente no peito como Al Berto. O altar poético do alter ego de Alberto Raposo Pidwell Tavares condensa, nas mais de vinte obras editadas entre 1977 e 2012, desastres de beleza profunda e de honestidade assustadoramente letal, passíveis de compreender apenas numa urgência de leitura noturna.
Revisitá-lo, por sua vez, requer um ferocíssimo exercício de alma. Uma desolação permitida do eu, calcinante, que absorve os órgãos a cada estrofe ou frase aplicável ao real. O espetro completo da morte, do desejo, da raiva ou da melancolia é consequência direta da viagem pelas páginas, e é aqui, quando o sangue espessa e as veias pulsam, quando a conta dos cigarros ultrapassa a de horas dormidas porque a insónia minou os ossos e quando a imobilidade irrompe pelos estilhaços da manhã que a extensão total da obra passa, definitivamente, a fazer parte do corpo.
Entre a poesia límpida de Trabalhos do Olhar e a tridimensionalidade prosaica de Diários, Al Berto constrói uma viagem completa. E é, talvez, neste último, que a perspetiva assume um papel mais determinante. Nos bastidores da existência do autor há um homem cuja ligação ao mundo pende entre a procura do outro, “Tento por todos os meios esquecer-te. E quanto mais faço esse esforço, mais me sinto apaixonado…” e o desapego “cada vez mais me afasto de toda a gente. A paciência esgota-se lentamente.”
Nascido em Coimbra, em 1947, o poeta transcendeu a pintura e fez da escrita o albergue sensorial definitivo com a obra À Procura do Vento num Jardim d’Agosto, dois anos após o regresso a Portugal, que acontece em 1975. Para trás, a École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels, em Bruxelas. Pela frente, um país em tumulto, mergulhado na euforia democrática, que conservava ainda todos os resquícios da dureza ditatorial.
É deste recorte, da incerteza e da descoberta, que o realizador Vicente Alves do Ó alimenta a primeira longa metragem, homónima, sobre o poeta. Al Berto é o resultado da experiência pessoal de Alves do Ó com o sujeito real do autor, uma partilha de proximidade onde os quotidianos se entrelaçavam, e os sonhos, os medos, o cinema e o passado eram discutidos abertamente.
O filme, escrito e realizado por Vicente Alves do Ó, é uma produção Ukbar e chega dia 5 de outubro aos cinemas.
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