Atualidade   Entrevistas  

As palavras são delas: Patrícia Reis

04 Apr 2018
By Irina Chitas

Perguntámos a escritoras portuguesas o que é a palavra enquanto catarse. Esta é a história de Patrícia Reis.

Perguntámos a escritoras portuguesas o que é a palavra enquanto catarse. Esta é a história de Patrícia Reis.

O que é que sente quando escreve que não sente em mais nenhuma ocasião?

Há uma sensação de irreal por estar a escrever ficção e que, ao mesmo tempo, parece ter voz própria. Acontece-me muito ser “obrigada” pelas personagens a refazer ou evitar certos caminhos narrativos nos quais tinha pensado no início do processo de escrita. Escrever implica uma determinada disponibilidade mental que importa que seja total. É como mergulharmos num mundo totalmente diverso, qual Alice a cair e a cair até chegar ao país das maravilhas.

O que é que a levou a começar a escrever?

A necessidade de organizar ideias. Comecei muito cedo, assim que aprendi a escrever. Escrever é uma forma de terapia, de organização de ideias e de ideais e é, ainda, potenciador de uma certa redenção. Escrevo sobre temas que me importam, que me assustam e quero, com a escrita, provocar o leitor, inspirá-lo e, como diz Agustina Bessa-Luís, incomodá-lo. A leitura é uma viagem e, com a Literatura, é possível ter uma experiência  transformadora.

Qual é a sua opinião sobre o mito do artista atormentado? Acha que há uma ligação directa entre um autor e um certo sentimento de melancolia?

Paul Auster diz que escrever é uma espécie de esquizofrenia. É um ofício obrigatoriamente solitário, são horas e dias, meses e, quantas vezes, anos de roda de uma história, para encontrar o tom certo, a estrutura, as personagens, é preciso ter uma capacidade de introspecção aguda e, em simultâneo, é preciso observar o mundo, como quem o digere. Não creio que seja totalmente um mito, a melancolia não é apanágio de todos os autores, mas é de muitos.

Considera a escrita como uma catarse, como uma forma de descodificar as emoções - e, talvez, até de cura interior?

Como dito, escrever é a melhor terapia que conheço, aquela que me serve melhor, na qual posso encontrar respostas para o que me perturba. Como escrevo sobre pessoas, sobre o meu tempo, creio que a escrita descodifica a minha forma de entender e ver o mundo.

Que impacto pensa que a sua escrita tem em quem a lê?

O livro, mal chega às mãos do leitor, deixa de ser meu, é como um objecto estrangeiro e sei de antemão que cada leitor é  um leitor distinto. Importa entender que o que escrevemos e o significado do que escrevemos pode ser interpretado de várias formas, por pessoas distintas. É esse o prazer da partilha: entregamos uma história ao público e depois recolhemos visões diferentes. A história é-nos devolvida na apreciação, na crítica, mas já não é só nossa, está contaminada pela vida de quem a lê.

Explorámos a escrita enquanto catarse no artigo Afloração da Alma, publicado na Vogue Portugal de abril, já nas bancas. 

 

Irina Chitas By Irina Chitas

Relacionados


Moda   Compras  

As melhores lojas vintage de Madrid neste momento

23 Apr 2024

Palavra da Vogue  

O que lhe reservam os astros para a semana de 23 a 29 de abril

23 Apr 2024

Compras  

Os melhores presentes para oferecer no Dia da Mãe

22 Apr 2024

Opinião  

A máquina do tempo

22 Apr 2024